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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Veraneio gaúcho

Pura Verdade...É assim mesmo
Veraneio Gaúcho
Está chegando o verão e com ele o veraneio, como chamamos aqui no sul,
Não sei vocês, de outros Estados, Sabem, mas temos o mais fantástico litoral do País: de Torres ao Chuí, uma linha reta, sem enseadas, baias, morros, reentrâncias ou recortes. Nada! Apenas uma linha reta, areia de um lado, o mar do outro.
Torres, aliás, é um equívoco geográfico, contrário às nossas raízes farroupilhas e devia estar em Santa Catarina.
Característica nossa, não gostamos de intermediários.
Nosso veraneio consiste em pisar na areia, entrar no mar, sair do mar e pisar na areia. Nada de vista deslumbrantes, vegetações verdejantes, montanhas e falésias, prainhas paradisíacas e outras frescuras cultivada ai para cima.
O mar gaúcho não é verde, não é azul, não é turquesa.
É marrom!
Cor de barro iodado, é excelente para a saúde e para pele!
E nossas ondas são constantes, nem pequenas nem gigantes, não servem para pegar jacaré ou furar onda.
O solo do nosso mar é escorregadio, irregular, rico em buracos.
Quem entra nele tem que se garantir.
Não vou falar em convenientes como as estrada engarrafadas, balneários hiper-lotados, supermercados abarrotados, falta de produtos, buzinaços de manha de tarde e de noite, areia fervendo, crianças berrando, ruas esburacadas, tempestades e pele ardendo, porque protetor solar é coisa de fresco e em praia de gaúcho não tem sombra. Nem nos dias de chuva, quase sempre nos finais de semana, provocando o alegre, intermitente, reincidente e recorrente coaxar dos sapos e assustadora revoadas de mariposas.
Dois ventos predominam, em nosso veraneio: O nordeste - também chamado de nordestão - e o sul, cuja origem é a Antártida.
O nordestão é o vento com grife e estilo... estilo vendaval.
Chega levantando areia fina que bate em nosso corpo como milhões de mosquito a nos pinicar. Quem entra no mar, ao sair, rapidamente se transforma no - Como chamamos com bom humor - veranista à milanesa.
A propósito, provoca um fenômeno único no universo, fazendo com que o oceano se coloque em posição diagonal à areia: você entra na água bem aqui e quando sai, está a quase um quilômetro para o Sul. Essa distância é variável, relativa ao tempo que você permanecer dentro da água.
Outra coisa: nosso mar é para macho! Água gelada, vai congelando seus pés e termina no cabelos. Se você prefere sofrer tudo de uma vez, mergulhe e erga-se, sabendo que nos próximos quinze minutos sua respiração voltará ao normal: é o tempo que leva para a recuperar-se do choque térmico.
Noventa por cento do nosso veraneio é agraciado pelo nordestão que, entre outras coisas, promove uma atividade esportiva praiana, inusitada e exclusiva do Sul: Caça ao guardasol, Guardasol, você sabe, é o antigo guarda-sol, espécie de guarda-chuva de lona, colorida de amarelo, vermelho e verde, cores do verão, enfim cujo cabo tem uma ponta que você enterra na areia e depois senta embaixo, em pequenas cadeiras de alumínio que não agüentam seu peso e se enterram na areia.
Chega o nordestão e... lá se vai o guardassol, voando alegremente pela orla e você correndo atrás. ganha quem consegue pegá-lo antes de ele se cravar na perna de alguém ou desmanchar o castelo de areia que, há três horas, você está construindo com seu filho de cinco anos.
O vento sul, por sua vez, é menos espalhafatoso. se você for a praia de sobretudo, cachecol e meias de lã, mal perceberá que ele está soprando. É o vendo ideal para se comprar milho verde e deixar a água fervente escorrer em suas mãos para aquece-las.
Raramente, mas acontece, somos brindados com o vendo leste, aquela que vem diretamente do mar para a terra. Aqui no sul, chamamos o vento leste de vento cultural, porque quando ele sopra, aprendemos cientificamente como se sentem os camarões cozinhando ao bafo.
E, em todos os veraneios, acontece aquele dia perfeito: nenhum vento, mar tranquilo e transparente, o comentário geral é: Foi um dia de Santa Catarina, de Maceió, de Salvador e outras bichices, esse dia perfeito quase sempre acontece no meio da semana, quando quase ninguém está lá para aproveitar. Mas fala-se dele pelo resto do veraneio, pelo resto do ano, até o próximo verão.
Morram de inveja, esta é outra das coisas de gaúchos!
Atenta a essas questões, nossa indústria da construção civil, conhecida mundialmente por suas soluções criativa e inéditas, inventou um sistema maravilhoso que nos permite veranear no litoral a uma distância não inferior a quinhentos metros da areia e, na maioria dos casos, jamais ver o mar: os famosos condomínios fechados.
A coisa funciona assim: a construtora adquire uma imensa área de terra (areia), em geral a preço barato porque fica longe do mar, cerca tudo com um muro e, mal começa a primavera, gasta milhares de reais em anúncios na mídia, comunicando que, finalmente agora você tem ao seu dispor o melhor estilo de veranear na praia: Longe dela: Oferece terrenos de ponta a ponta, quanto mais longe da praia, mais caro é o terreno. Você vai lá e compra um.
Enquanto isso a construtora urbaniza o lugar, faz ruas, obras de saneamento, hidráulica, elétrica, salão de festa comunitário, piscina comunitária com águas térmicas, jardins e até lagos e lagoas artificiais onde coloca peixes para você pescar. sem falar no ginásio de esportes, quadra de tênis, futebol, futebol sete, se o lago for grande, uma lancha e um professor para você esquiar na água e todos os demais confortos de um condomínio fechado de Porto Alegre, além  de um sistema de segurança quase, repito, quase invulnerável.
Feliz proprietário de um terreno, você agora tem que construir uma casa, obedecendo é claro ao plano-diretor do condomínio que abrange desde altura do imóvel até o estilo.
O que fazemos nós, gaúchos, diante dessa fabulosa novidade? Aderimos, é claro. Construímos as nossas casas que, de modo algum, podem ser inferiores as dos vizinhos, colocam piscinas térmicas nos nossos terrenos para não precisar usar a comunitária, mobiliamos e equipamos a casa com o que á de melhor, sobretudo na questão da tecnologia: Internet, TV à cabo, Plasma ou LCD, Linhas telefônicas, enfim, veraneamos no litoral como se não tivéssemos saído da nossa casa na cidade.
Nossos veraneios costumam começar ai pela metade de janeiro e terminar pela metade do fevereiro, depende de quando cai o carnaval. Somos um povo trabalhador, não costumamos ficar parados nas nossas praias.
Vamos para lá nas sextas-feiras de tarde e voltamos de lá nos domingos a noite. quase todos na mesma hora, ida e volta.
É assim que, na sexta-feira, pelas quatro ou cinco da tarde, entramos no engarrafamento. Chegamos no nosso condomínio lá pelas nove ou dez da noite. Usufruímos nosso novo estilo de veranear no sábado - Manhã, tarde e noite - e no domingo, quando fechamos a casa.
Adoramos o trabalhão que dá para abrir, arrumar e prover a casa na sexta a noite, e o mesmo trabalhão que dá no domingo de noite.
E nem vou contar quando, ao chegarmos, a geladeira estragou, o sistema elétrico pifou ou a empregada contratada para o fim-de-semana não veio.
Temos aqui no sul, uma expressão regional que vou revelar ao resto do mundo: Graças a Deus que terminou esta bosta de veraneio!
E ai amigos prontos para irem para praias gaúchas?
Ótimo veraneio aos amigos.
desconheço a autoria

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