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sábado, 22 de dezembro de 2012

Então é Natal....

Objeto de desejo conquistado

Há muito que eu queria, agora me dei ao luxo de possuir ;)



É maravilhoso acordar e tomar um café de verdade!!!!!

Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
fé igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...


Florbela Espanca

Memória

De tudo fica um pouco
do passeio que fiz
das música que ouvi
ficou um pouco da flor que colhi.
Ficou um pouco dos beijos que dei
dos seus olhos
da sua pele clara
das suas mãos macias ficou um pouco (muito pouco).

Pouco ficou daquele dia
em que vi o beija-flor beijar a flor.

Ficam poucas cores, desenhos
Pouco, muito pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco
do azul do oceano
da cor das rochas
da paz que existe no coração
do ser humano.


Maria Clara Oliveira

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Um filme para se emocionar

Poucas são as vezes em que algo consegue me impressionar.
O menino do pijama listrado é um filme lindo, mesmo abordando um tema tão denso - possibilita muitas reflexões sobre a nossa forma de viver a vida.

http://www.youtube.com/watch?v=HXne8WN2VDs

Piedosa Mutação

Pedi aos Deuses do fogo,
do Inferno e do Trovão,
queimassem os sonhos passados,
que estavam no coração.
Os Deuses tiveram dó,
e, vendo meu sofrimento,
queimaram os sonhos doridos,
no fogo mais violento!
As chamas subiram aos céus,
nas asas fortes do Vento!
São hoje rosas vermelhas,
brilhando no firmamento!

Esther Moura

Brinquedo impossível

Brincando na idade adulta
acabei fazendo um verso,
um avesso quase perverso
de não mais ser criança
e ainda querer brincar.
Sorte contrária à minha
Não mais ser criança e ainda
querer fazer tanta arte
nesta brincadeira à parte
de ser poeta, um dia.
Ah, mania ou loucura
brincando no dia
à hora de trabalhar.
Quando serei adulta
e encontrarei rimas
esquecidas de se cruzar?
Nunca, nunca, nunca
Todas as vezes que cresci
confesso que me arrependi
Bom é ser mesmo criança
Ser poeta, na esperança
desse um dia: Nunca cresci!


Regina Souza Vieira

Ambigüidade (de "Cantigas do Desencanto")


Dança de elfos em um caminho silencioso e ensolarado
Na tarde que se estende, preguiçosa. Tua mão na minha, quente
Como um elo inconsciente ao mundo que deixamos para trás
Aquém do sonho. O que me dás, aquilo que abraço, não existe
E o que existe não importa. O que existe não compreende
As lacunas deixadas pelas folhas caindo à nossa volta.
O que existe não tem compartimento grande o suficiente
Para conter o silêncio do que nunca foi - e nunca será.
O que existe devolve em eco o impalpável, o sutil
O inconseqüente das cantigas que entoas
Na quietude ensolarada que nos cerca.
Por que razão é preciso que eu te crie
Para além da vida à nossa frente
Porque a realidade, de repente,
É tão menor que o sonho?


Dalva Agne

sábado, 17 de novembro de 2012

Doces surpresas


            Na última quarta-feira, no passeio diário com a Sharon, encontramos duas vizinhas que estavam a caminhar com suas mascotes; a minha mocinha, que agora está tornando-se sociável, foi cheirar as companheiras, quando foi atacada a dentadas por uma delas – teve um ferimento hemorrágico no olho esquerdo, que deixou as “mamis” de todas bastante assustadas... e a Sharon nem se defendeu!!
            Eu, disse que essas coisas acontecem e, com o meu jeito objetivo sabia que teria que levá-la ao veterinário para avaliar e tratar os danos. Interrompemos o passeio, subi para o apartamento para limpar o sangramento (estava gotejando...) e liguei para a clínica para me informar se o motorista estava disponível para vir buscá-la, como ele havia saído, liguei para um táxi.
            Quando estava no hall do edifício esperando, a dona da ‘fera’ (uma poodle menor que a Sharon) veio até nós e ofereceu-se para levar-nos; fiquei grata e surpresa com a solicitude dela, que também arcou com as despesas veterinárias do incidente.
Não esperava essa atitude, fui positivamente surpreendida: ainda há pessoas que se preocupam, que bom!!!
Saldo do acontecimento: apesar do susto, percebi que existem pessoas que fazem o bem, conheci uma nova vizinha e, indiretamente, indiquei para ela uma clínica veterinária, já que ela está sem referência no momento. A Sharon esqueceu o assunto rapidinho - à tarde já queria sair para a rua e no dia seguinte, se aproximou de outros cachorros para ‘conhecer’ (eu é que estava receosa...)






quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Velha infãncia

Recordação da trilha sonora de 'abertura dos trabalhos' da retransmissora de tv que assistia quando criança. 
Um vídeo clipe cheio de imagens bonitas e simbólicas (desconfio, a tv era p/b, cheia de chuviscos...) com um cavalo branco galopando em uma praia ...

http://www.youtube.com/watch?v=CyWFqERVUNE

Vontades


Abrigo em mim tantas vontades;
vontades educadas que freiam
à luz do sinal vermelho,
e não correm pela pista que leva
aos excessos da boa mesa.
Vontades gordas de amar,
de dar abraços com extras medidas,
que me cairão perfeitos
sem que eu nem me preocupe
em aparar os excessos.
Tenho vontades loucas
de ultrapassar as barreiras
da qualquer nobre educação,
e no rosto de quem não a tem,
e que me trata com desdém,
deixar minhas mãos estalarem
quebrando tijolos de arrogância.
Para remendar o mundo,
tenho longas linhas de vontades
que em pontilhadas microscópicas
se transformam em fantasmas
e dançam soltos sem arremates.
Tenho vontades aos montes
pelo corredor da mente,
que vão na mira das luzes,
mas numa árdua triagem,
libero somente as perfeitas,
que se realizam como modelos.

Rosa Clement

Retratos


Retratam-se figuras, rostos, gravuras.
O pôr-do-sol e até mesmo as manhãs escuras.
Retratam-se momentos de dor ou de muita ternura.
Gravam-se vozes, gestos, olhares e acontecimentos.
E todos estes ficam no anonimato do esquecimento.
Mas retratam-se para um dia vir à tona uma alegria,
ou até mesmo um descontentamento.
Na chegada dos nossos dias, são tantas as nostalgias.
Das horas e horas festivas nas quais tu existias.
Do bom tempo da idade da razão,
Onde o dono de tudo era tão somente o coração.
Te conheci, te retratei, te amei e te perdi
Mas de lá para cá, jamais te esqueci.
Guardei-te como um retrato muito especial.
E confesso que até hoje não amei outro igual.
Quando depois das lágrimas acordei,
Cansada do desfalecimento pensei:
Ah! Um dia... jamais te esquecerei.
Se soubesse do bem que te quis,
De como quis te fazer feliz.
De como sofri quando te perdi.
E do tanto que por você já morri.
Se pudesses ver dentro de mim,
Sei até que para um sofrimento sem fim.
A coletânea, para lembrar que te amei.
A inesquecível forma de tê-lo comigo.
Às vezes sendo até como um castigo.
Um dia te olhei, te conheci,
e a partir daí nasci.
Te roubei em retratos que jamais devolvi.
E hoje tenho guardado comigo,
a imagem de um amor antigo.
Que mesmo passado o tempo,
sempre te encontro no meu encantamento.

Sandra Aparecida Gama

E....

O meu pensamento
é uma sala-de-estar.
Com portas e janelas
e sem paredes
e sem teto.
Não há limites.
A sala é minha
e nela recebo os meus amigos.
(E você mora nela)
E há flores por todos os lados.
No canto,
a saudade está
e no centro, uma mesa
enorme.
Sobre ela, pétalas
e entre as pétalas,
porta-retratos
com fotografias de pessoas
que amo, que admiro
e as que apenas convivo.
No sofá, repousa o passado
o passado lindo
o que foi inesquecível.
O passado ruim
esse
eu joguei pela janela.
é para isso que ela lá está.
No ar, um perfume de rosas
que se mistura entre borboletas
coloridas,
e beija-flores
beijando as flores.
Sem as paredes
e sem o teto
posso mirar as estrela
os cometas, os pássaros
o céu azul
e o Sol
às vezes, entre as trevas.
E a chuva, quando cai
cai apenas sobre as flores
que estão sempre vivas
e coloridas
e lindas.
Quando anoitece
vem do canto, a saudade
e ela acorda o passado
que repousava
e juntos, eles brincam
e dançam
sobre o tapete salgado de lágrimas.
E cheiram as flores
e sentem o perfume de rosas
e bajulam as borboletas
e dão mel aos beija-flores.
E ficam olhando os porta-retratos
e cantam uma canção
enquanto eu... adormeço
e suspiro...
e sinto...
e choro...
e sonho...
e desejo nunca acordar...

Vivian Schatz

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Os (des)mandamentos das redes sociais


Por Arthur Henrique Chioramital

 
E outro dia o Facebook anunciou ter alcançado a marca de um bilhões de usuários. Isso mesmo, você fez a conta certo, de cada seis pessoas que habitam este planeta, aproximadamente uma tem uma página na rede social criada por Mark Zuckerberg. Com tanta gente envolvida, mais cedo ou mais tarde os desmandos, maus modos e falta de noção que pululam no nosso dia a dia migrariam do mundo real para o virtual. Pois bem, infelizmente foi mais cedo. Exemplos de mau uso das redes sociais não faltam.
Encher a timeline (linha do tempo) das pessoas com atualizações, postagens e recados é o primeiro e talvez mais grave dos pecados que podem ser cometidos nas redes sociais. Na minha opinião, quem faz isso deveria ser condenado à fogueira, mas me parece que a Santa Inquisição abandonou a prática. Uma pena. Eu sei que você foi criado em um lar cheio de amor que girava em torno de cada pequena necessidade sua e que por isso precisa, quase patologicamente, avisar a todos quando vai tomar água, fazer xixi, descascar uma laranja ou deixar/chegar ao trabalho. Na boa, não precisa. Mesmo. Primeiro porque a gente não liga. Depois porque faz você parecer um loucp carente e sem amigos. Melhor não, né?
Postar um milhão de fotos de bichinhos fofinhos com frases inspiradoras ou de autoria questionável é outro deslize que me faz considerar seriamente parar de receber as atualizações de certas pessoas. Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector e Drummond jamais  escreveriam aquelas coisas e se tivessem escrito não gostariam que suas palavras viessem acompanhadas da foto de um filhote de cachorro. Se isso não for razão suficiente para você abandonar esse hábito, pensa que essas imagens são cafonas, muito cafonas. Tipo apresentação de Power Point com parábolas bíblicas. Se você ainda manda e-mails com apresentações em Power Point com parábolas bíblicas, pare de ler esse texto agora mesmo e volte para os anos 90. A humanidade agradece.
Compartilhar coisas que não são de interesse público é outra coisa que convém evitar. Outro dia uns amigos comentavam que a página deles foi invadida pelas fotos da cirurgia do menisco de um colega em comum. Eu, de verdade, não consigo imaginar o que passa pela cabeça do sujeito para ele achar que as pessoas vão curtir ver o joelho dele todo aberto. A dica é simples: a vida pessoal continua pessoal. Tente limitar o conteúdo das postagens a algo que realmente pode ser útil para quem recebe suas atualizações.
Tópicos muito específicos devem ser compartilhados com pessoas que se interessam pelo tema. Se você é super fã daquela banda finlandesa que faz música a partir de latas de sardinha, ótimo. Isso não quer dizer que eu vou achar superlegal receber notificações sobre cada um dos videoclipes dos caras que você postar. Futebol, religião e novelas são assuntos que costumam gerar situações assim. Gente, o facebook permite que você separe seus contatos justamente para evitar esse tipo de aborrecimento. Bora aprender a usar esse recurso e parar de encher o saco dos outros porque o seu time ganhou a partida do final de semana ou a Carminha levou uma surra do Tufão.
Ok, algumas causas são universais e devem ser defendidas por todos nós, mas as pessoas têm o direito de escolher até que ponto querem se envolver. Eu sou contra a violência doméstica ou contra crianças e animais, e não perco a oportunidade de alertar as pessoas sobre esses problemas. Mas prefiro não ver as fotos de um cão que apanhou até morrer ou assistir o video de uma criança sendo espancada pela babá. Esses são os meus limites. Seria elegante respeitá-los.
Marcar os outros em posts e fotos sem autorização também é pisar feio na bola. O mesmo vale para os aplicativos que mostram os lugares que você visitou. A pessoa tem o direito de não querer que saibam onde ela jantou ou o tanto que ela bebeu na última balada. Se para você não tem problema, tudo bem, mas tem gente que prefere não se expor tanto nas redes sociais. Na dúvida pergunte antes se pode associar as imagens e informações ao profile (perfil) do outro.
No fundo, minha gente, é sempre sobre respeitar o espaço do outro e se colocar no lugar dele. Tipo civilidade, sabe? Pode parecer frescura no começo, mas todo mundo sai ganhando no final. Pode apostar.


Algo bom que descobri na web...

http://www.forademim.com.br/site/


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Mulheres e aranhas


Como a aranha tece a teia,
a mulher vaga e se enleia
no mudo vagar das colheitas
desta vida sem findar
Como a aranha em sua teia,
a mulher casa e alimenta
o infinito bordel de sonhos
e da casa e do ninho
passa a vida a cuidar
Como a aranha em sua teia,
armada em espuma e em ondas
armada em luz e em sonhos
difíceis de se desenredar
a mulher é hábil tecedeira
dos sonhos da natureza
tecelã dos sonhos e das novenas
e da difícil arte de amar

Rosy Feros

sábado, 20 de outubro de 2012

A aids é gay


Na quinta-feira, fui assistir a abertura do Vivendo, pela primeira vez, realizado fora do Rio de Janeiro, tendo um caráter regional e menos globalizado – não me ocorre um termo mais adequado...
Revi muitas pessoas que conheci nos tempos de militância e havia outras tantas desconhecidas, um dos aspectos que chamou a atenção (talvez por eu estar desvinculada há bastante tempo) foi o estilo “balada GLS” que marcou o evento. De um modo geral, a maioria do público presente estava composto por homossexuais; mulheres eram poucas e ‘pessoas comuns’, não estiveram presentes, pelo que pude perceber.
Depois de tanto tempo, tanta luta e tanta retórica, é preferível manter a aids distante das pessoas, algo que só acontece com o outro e não faz parte da vida de todos nós.
Talvez fosse assim nos primórdios: um gueto composto por aqueles que enfrentam as adversidades de viver com HIV, solidários entre si, a imaginar quem seria o próximo... a diferença agora, é que àquelas e àqueles que tem acesso ao tratamento não morrem tão rápido; os outros, são os outros e só, plagiando Paula Toller.
A aguardada mesa de abertura foi formada somente por homens gays, que vivem com aids desde o milênio passado e trouxeram relatos dos tempos jurássicos da epidemia.
Para qualquer pessoa que não conheça a realidade dos fatos, ficou a impressão de que aids é uma coisa que só aconteceu com ‘viados’ há cerca de 20 anos atrás. Cadê as outras tantas pessoas que vivem com HIV e aids? O número de mulheres, com suas especificidades na soropositividade, cresceu enormemente no período e ao que parece, o movimento ignora isso. Como o senso comum irá destigmatizar a aids, se o preconceito começa dentro do movimento?
Por motivos outros, não compareci aos dois dias subseqüentes do encontro, acredito que foi uma questão de elencar prioridades e não me sentir inserida dentro do contexto. Há um universo de pessoas invisíveis sobrevivendo com aids, enquanto uma meia dúzia faz de conta que está enfrentando a epidemia, sem abrir mão da militância falida por questões de vaidade pessoal.
Pronto, falei!!!! 

sábado, 13 de outubro de 2012

Criança

Criança alegre
Que canta e dança
Esquece que a vida
Te da a ferida
E depois te amansa.
Criança bonita
Enquanto é pequena
Cresce e enfeia
O mundo que acena
E a mão que te asseia
Criança pura
Ainda sem maldade
Um dia jura
Fazer caridade
Criança adulta
Infância roubada
Nas ruas domada
Aprende quem manda.
É a injustiça madrasta.

 
Vera Vilela

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Anos 80

As roupas, cabelos e acessórios eram medonhos mas, a música era boa - não dá para ter tudo ao mesmo tempo ;)
Várias bandas, cantores e muita poesia - escolhi uma,  icônica, que remete as minhas lembranças às tardes dançantes de domingo!

http://www.youtube.com/v/knQYxU4yHCA&fs=1&source=uds&autoplay=1

Cadeado emperrado


Tranco-me em copas. 
A fechadura emperrou.
A chave do cadeado?
Não sei onde ficou!
O que posso fazer?
Se no auge do querer...
Fez-me sofrer.
 
Cristiana de Barcellos Passinato 

Versos de orgulho


O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
- O jardim dos meus versos todo em flor...
A seara dos teus beijos, pão bendito...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
- São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.


Florbela Espanca 

Gosto dela :)

http://www.youtube.com/watch?v=968v9WJoeo8

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Recordar é viver!

Eu, Medianeira, Sandra e Letícia Ikeda - um das últimas vezes em que nos vimos :)

Nos pedágios do GAPA/RS, ela sempre queria segurar a faixa....

Eu, Sandra, Charles - Pela Vidda Niterói e Alex Boer em 1997, no meu primeiro Vivendo

Superação


            Ontem recebi a noticia da morte trágica de uma ex-amiga dos tempos de militância no GAPA/RS, foi uma morte trágica e estúpida, provocada por um acidente automobilístico.    Fiquei impactada e sinto um nó na garganta ao pensar no assunto e lembrar dela; nossa relação foi entremeada de altos e baixos, tapas e beijos e muita passionalidade: nós duas com uma pitada de dramaticidade e teimosia...
             Guardo muitas e boas lembranças daqueles tempos idos e que não voltarão mais – ao colocar na balança, acho que os bons momentos se sobressaem: espaços para reflexão e produção, momentos hilários e ridículos, bate-bocas por bobagens e/ou divergências de idéias, enfim, uma relação intensa que durou o tempo necessário para tornar-se inesquecível.
            Ao recordar, uma das primeiras coisas que veio à minha mente foi: a Sandra me emprestou os cheques para eu financiar o meu primeiro computador (na época custava muito caro e eu não tinha onde cair morta – não consegui evitar a piada...). Também era comigo que ela queria dividir o quarto de hotel nas inúmeras viagens para encontros, seminários, congressos... que até hoje não descobri muito para que servem.
            Mesmo sem ter comparecido aos ritos funerários que aconteceram no interior do Estado, estou vivenciando o luto e tentando descobrir se consegui apreender algo com a doutrina espírita que tem me acompanhado nos últimos tempos – em especial, quando estou presa em um leito de hospital.
            Ela se foi em um momento de realização pessoal e profissional, provavelmente estava feliz e cheia de ideias, que foram interrompidos por um desígnio maior: alguém precisava que ela fizesse outras coisas, em um outro plano...
Assim é a vida, pessoas vem e vão, cumprem o seu destino sem que possamos interferir.
            Eu não aprendi a lidar com a perda de entes queridos, simplesmente deixo-me levar... a dor da ausência irá passar, já vivi a experiência outras vezes.
Eu, para evitar esse sentimento ruim nas pessoas próximas a mim, estou me distanciando lentamente de tudo – assim nem irão perceber quando eu não estiver mais por aqui.
            Não somos religiosas e não serei hipócrita de dizer que irei rezar por você mas, siga em paz minha amiga e encontre a luz que tanto distribuiu para os que fizeram parte da tua vida.

http://www.youtube.com/v/aLrqYXBMmJM&fs=1&source=uds&autoplay=1

sábado, 22 de setembro de 2012

Partidas


Em mais uma tentativa inglória de ser selecionada para o Concurso Poemas no Ônibus:

As vidas
São definidas
Por chegadas e partidas,
As viagens de ônibus também.

p.s. como poetisa, devo ser uma boa psicóloga ;) 

Esse olhar


Esse olhar parado
sem hoje nem passado
Esse olhar sem espera
como canto preso
em boca entreaberta
Esse olhar cansado
desfeito
sem jeito
não grita
não chora
Esse olhar desarmado
como barco sem leme
Existe
Não posso ignorá-lo!

Eugénia Tabosa

Declarando loucuras


São loucuras que declaro,
não sei se com retidão,
mas que ao ler esteja claro,
que falo ao seu coração!

Minha mensagem é pra que ame,
sem reservas, sem nada temer,
se entregue, dê vexame,
mas nunca deixe de querer!

Nas loucuras que me espelho,
todas mostram a felicidade,
nelas acredito e aconselho,
pois todas são a verdade!

É uma loucura ardorosa,
de uma vida mais feliz,
de uma mulher mais corajosa e
de um homem sempre aprendiz! 


Jacira Cardoso

Na floresta


Na floresta
do sonho solto
tranças de alho
não espantam o desejo
do lobo mau

Sob o lençol de florezinhas
a carne rosada
transpira perfume
que atrai o lobo
come a menina
Ela não dá
um ai!

 
Valéria Villela

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tô bege!!!!


Há coisas na vida que me deixam perplexas; ok, sou uma mulher madura e deveria não me importar com o que não está ao meu alcance.... em vários aspectos, já cheguei a conclusão que o melhor a fazer é me alienar.
Um ditado diz que “é possível tirar a pessoa da favela mas não a favela da pessoa” o mesmo se aplica ao ativismo social... se eu fosse católica ou evangélica, talvez tentasse um exorcismo para me livrar da indignação que se apodera de mim, em determinadas situações.
Nos últimos tempos, estou sendo privilegiada com informações a respeito da militância atual e, para usar um jargão gay: tô bege!!!! O que está acontecendo com as pessoas? Serão os sinais do apocalipse, já que o mundo irá acabar no final do ano?
No ‘meu tempo’ se falava na importância de se oxigenar o movimento e incentivar a formação de novas lideranças, o único oxigênio evidente é nos cabelos dos militantes do milênio passado que não percebem que prá tudo na vida há prazo de validade e insistem em um discurso rançoso... As figuras em evidência nas organizações da sociedade civil são as mesmas que se profissionalizaram no movimento social e esqueceram da razão de sua existência: a aids, tal como ela é!
Presença confirmada nos discursos de sempre, Herbert Daniel, um ser lendário e que precisa ser reverenciado como alguém que trouxe à tona a reflexão sobre viver com HIV e aids,  ele foi um militante na essência e deve estar virando-se no túmulo com os rumos que o movimento tomou – mais que os belos textos, as pessoas deveriam orientar as suas ações no que ele teve coragem de fazer: enfrentar o sistema.
Surge a questão: por que não voltar à ativa para fazer a diferença? É difícil não ser manipulada pelos meandros burocráticos, podendo manter a coerência entre teoria e prática, abrindo mão da visibilidade ou gerando intrigas com aqueles que detêm o poder para financiar as pseudoações executadas; basta visitar qualquer serviço especializado de saúde para ver isso... Para estar no topo, é preciso abrir mão dos princípios e bajular os que estão uns degraus acima da rede social. Eu não sirvo mais pra isso e não tenho condições físicas de botar a mão na massa na base que, ao que parece está descoberta, tendo em vista que os dirigentes passam em reuniões e viagens e não tem tempo de tratar das ‘questões menores’ e que realmente influenciam na vida daquelas e daqueles que vivem com HIV e aids.
Não é à toa que a epidemia tornou-se uma endemia; enquanto não surgir alguém que tenha a coragem de chutar o balde do governo, a nossa realidade só tende a piorar...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Oportunista

Com a troca de infectologista, repeti uma série de exames de rotina – que eu julgava banais e tinha “a certeza” dos resultados. Dentre eles havia a solicitação para um mantoux (Porto Alegre é uma das cidades com maiores índices de TB do país), como não apresentava sintoma algum e ainda estava em tratamento no hospital-dia, os médicos do Sanatório Partenon sugeriram que eu esperasse o retorno do técnico do serviço, que estava em férias, para então realizar o exame. No final de abril, ao fazer o exame, fui surpreendida com uma importante induração no braço esquerdo... Realizei os exames complementares – raio-x e tomografia – e também uma fibrobroncoscopia que apontou a presença do bacilo na biópsia. O tratamento da doença é feito pelo SUS, fui encaminhada pela minha médica para o Hospital Sanatório Partenon, onde passei pelo pneumologista que disponibilizou a medicação necessária para o mês. Estranhei estar novamente em um ambulatório de saúde pública, cercada de “pacientes diferenciados”, que dependiam unicamente daquele atendimento para garantir a recuperação da saúde e tinham demandas sociais importantes para realizar o acompanhamento. Fui ‘privilegiada’ por ser atendida por um médico que se “ocupa” do paciente, ao contrário da maioria dos profissionais de saúde pública, eu falo isso com tranquilidade porque já fiz parte do sistema como profissional e paciente.... A primeira consulta foi “encaixe” com o médico disponível e, a partir do segundo mês, eu peguei o jeito para não passar a tarde toda sentada esperando a minha vez de ser atendida: consigo pegar a primeira senha para o médico que está monitorando o meu tratamento. Em agosto, no terceiro mês de tratamento, ele disse que eu precisaria fazer um raio-x de controle, perguntei se não havia como me dar uma requisição para eu fazer pelo convênio porque demoraria muito para realizar pelo SUS, ele respondeu que eu faria o exame logo após a consulta e foi o que aconteceu – nada como estar com uma doença contagiosa para o sistema funcionar!!!! Há bastante tempo que eu conheço um projeto de exercícios físicos para pessoas com aids, desenvolvido pela Faculdade de Educação Física da UFRGS, finalmente resolvi deixar de ser sedentária e entrei em contato com o coordenador do Projeto; na entrevista, ao fazer a anamnese, ele me colocou que eu preciso concluir o tratamento da TB para poder iniciar os exercícios... como a previsão inicial era de terminar no final de novembro e a faculdade entra em férias logo a seguir, só poderei começar no ano que vem – até lá, pode ser que a vontade passe!!!! Também preciso torcer para que não surja nenhuma outra complicação... No retorno em setembro, além de aumentar a dose de medicamentos para 4 comprimidos por dia, ele aventou a possibilidade de eu precisar de 9 meses de tratamento (ao contrário dos 6 meses rotineiros); aí surge a questão: se aderi aos medicamentos, levo uma vida regrada e os meus marcadores virais são bons, por quê isso acontece comigo? Estou com a segunda doença oportunista do ano e, no caso atual, não tive nenhuma tossezinha.... a minha tuberculose é tão subjetiva quanto à aids.... Começo a cogitar a possibilidade de ter células de defesa de baixa qualidade – como disse um amigo: têm cd4 que não é bom...” – admitir que estou seriamente doente (mesmo que não sinta nada) e me adaptar à vida com limitações. O que me deixa indignada é o fato de muitas pessoas serem irresponsáveis com o tratamento, cometerem os mais variados excessos e mesmo assim, terem uma saúde de dar inveja (ainda se fazem de coitadinhos porque tem aids...) Vão se f... Sigo a vida e não vou permitir me abater, eu faço a minha parte e se o meu organismo não quer colaborar, deve haver alguma razão cósmica para isso. Estou aqui e vivo esse momento!!!!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Adolescência viral


Em 03 de setembro de 1996, há exatos 16 anos, em uma manhã de clima murrinha, no Hospital de Clinicas, recebi a notícia de que o meu teste anti-HIV havia dado positivo. A informação foi atirada em mim, como se fosse uma definição de sofrimento e morte prementes, tanto que a médica nem se deu ao trabalho de me encaminhar para o acompanhamento médico ambulatorial.
Saí da consulta e segui a vida, sem me desesperar ou responsabilizar outra pessoa, nesse dia, não chorei e, me comportei como faço na maioria das vezes em que tenho que lidar com algo difícil: dissociei-me do acontecimento que afetava profundamente a minha vida.
Aos 28 anos, já tinha aprendido, na cara e coragem, que eu deveria viver a vida por minha conta e risco e estava sozinha pra enfrentar isso também. Difícil foi contar para o meu namorado da época que me culpou de tê-lo colocado em risco e me abandonou à própria sorte –ele era muito importante pra mim e foi uma das pessoas que mais esteve ao meu lado, logo que vim morar aqui.
Na época, mesmo desconhecendo a minha sorologia, eu já era voluntária do GAPA/RS (Freud explica?) e tinha informações sobre a epidemia e de como era possível viver bem, apesar do HIV.... Tive a “sorte” de ser diagnosticada no ano da Conferência de Vancouver, quando surgiu a notícia de que estávamos a 1% da cura e surgiu a distribuição regular e gratuita do tratamento antirretroviral.
Passado um curto período, fiz mais um teste em outro serviço, onde estava recebendo treinamento para trabalhar como aconselhadora e a confirmação veio como se “aquilo não fosse comigo ou tivesse grande importância”. Desta vez, fui encaminhada para o ambulatório, onde comecei a fazer acompanhamento médico regular e passei a tomar os medicamentos, logo após receber os primeiros marcadores virais.
Alguns meses depois, uma sobrinha que eu adorava, morreu abruptamente, em um atropelamento e o meu mundo caiu; liberei toda a tristeza, raiva e emoções que estavam contidas nos últimos meses. Foi um período conturbado emocionalmente, eu estava muito fragilizada mas, tinha que continuar.
Depois de uns dias do sepultamento da minha sobrinha, a minha irmã – mãe dela – que era bem próxima a mim, veio passar uns dias em Porto Alegre e eu resolvi revelar o meu diagnóstico para duas irmãs que me importavam – eu não podia mais carregar o fardo todo sozinha.
No último ano, tive “pra morrer” por duas vezes: em uma delas com uma falência renal, que me levou a sessões de hemodiálise e na outra, com uma esofagite, que demandou 3 meses de tratamento endovenoso; no período mais crítico, eu abstraio, em uma tentativa de superação.
A constatação óbvia me foi revelada pela minha reumatologista ao conversarmos sobre as minhas internações e o meu comportamento diante da gravidade do meu quadro de saúde na época: “parece que só agora caiu a ficha pra você...” pra variar, mais uma vez ela tem razão, acho que sempre agi assim na minha vida: está acontecendo coisas ruins, se desliga até passar. A pergunta é: como adquiri a vontade de lutar para superar e continuar?
Onde encontrar a resposta para essa indagação? Preciso dessa resposta? Carreguei o estigma de “alemã insensível” por toda a minha vida que, provavelmente não saberia ser diferente.

Essência


Soube-o,
naquele exacto momento,
sem prévio aviso ou sussurrar,
e da surpresa fez-se o encanto
de em teus olhos descobrir
toda a infinita essência.

A vida feita num instante
de um instante
por um instante
como uma eternidade.

 
Carla Marisa Pereira 

A serenata


Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que ele vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?


Adelia Prado

Eu sou, será?


Eu sou a brisa
Que te beija em silêncio
Sou a Lua
Na sua noite escura
Apagando as trevas
Acendendo a luz
Pra te indicar o caminho
Sou vento de temporal
Sou pranto e dor
Querendo encontrar seu amor
Sou sua sombra
Sua sinfonia
Sua chegada
Sem partida
Sou toda uma vida
Sou espelhos a te projetar
Sou um coração
Que só faz te amar.....


Edna Berta 

sábado, 4 de agosto de 2012

Calma


Respeito


Coerência


Coragem


Objetivos


Confiança


Metas


Fica a dica


Tempos modernos....

Na fila do supermercado, o caixa diz uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis com o ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. 
Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Afiávamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, não é risível que a atual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?.

Coisas de Porto Alegre

muito divertido :)))))

http://www.youtube.com/watch?v=bmiA7RltbZA

Por quanto seja

Por quanto seja
Pela memória guardada,
trancada em baú
do qual esqueci a chave.

Pela cerimônia das palavras,
refeitas, revistas, apagadas,
em nome do que parece ser certo.

Pelo pulsar escondido,
do peito, dos desejos, dos afetos
à espera de melhor momento.

Pela chama invisível
de todos os medos terrenos
prontos a eclodir em mim.

Pelo que sou, sem saber,
oculto a meus olhos e meu juízo
num equilíbrio instável.

Pelo sonho de fato sonhado
que a vida não soube reproduzir
e a espera fez enfraquecer.

Pelo destino ainda por cumprir,
não desvendado, não compreendido,
perdido na incerteza do dia-a-dia.

Por tudo quanto seja e quanto venha,
que esteja guardado, talhado para mim,
busco as forças de estar viva,
a serenidade, mesmo que intermitente,
busco todas as certezas de meu coração,
todo o raio de luz que amanhece,
e entrego-me à tarefa de fazer
do amanhã um novo (e bonito) dia!

Carla Marisa Pereira 

Novo encanto



Novo encanto

 Quando a vida nos mostra o desencanto

e nós choramos a perda de alguém,

desaba o mundo, o sofrimento é tanto,

tudo fica vazio,sem ninguém.
O tempo vai. Cai sobre a dor o manto
do esquecimento. Um novo tempo vem.
Nós começamos a esquecer o pranto,
para a esperança a gente diz "amém".
Aos poucos, nossa vida recomeça.
Um novo encanto de viver também.
E assim nós ensaiamos nova peça,
para vivê-la sempre em mais um ato,
neste mundo que é palco de desdém,
cumprindo este destino caricato.

Gladis Lacerda 

Revolta

Revolta
O tempo não falta
pelo excesso de compromissos,

por chefes e submissos,
pela luta de cada dia,
pela dura realidade.
Tempo não é oportunidade.
O tempo só falta
pela ausência do desejo.
Renata Paccola

Duas meninas

Duas meninas
Tenho cá duas meninas muito bem diferenciadas

Uma é fina e delicada, outra é grossa abrutalhada

Uma é torre bem guardada outra é porta escancarada
Uma é um anjo de candura, outra é bisca endiabrada
Tenho cá duas meninas muito bem diferenciadas
Uma pede leite quente, outra quer pinga gelada
Uma lê livros sagrados, outra faz pornochanchadas
Uma dança minueto, outra só dança lambada
Tenho cá duas meninas muito bem diferenciadas
Uma toma guaraná, outra vive embriagada
Uma dorme de pijamas, outra só dorme pelada
Uma é musa inspiradora outra é gata debochada
Tenho cá duas meninas muito bem diferenciadas. 
Observo todas duas procurando entender
E percebo finalmente pra desassossego meu: 
Cada uma é metade de uma soma que sou Eu! 
Beni Soares

Nunca mais

Nunca mais
Minha vida tem me escorrido

Dentre os dedos,

Desde que você deixou de estar
Em meus dias...
E nas minhas gavetas,
Dispus minhas lembranças,
Ao lado do seu retrato,
Bem escondido de mim.
Só agora me dei conta que não estás...
E se algum dia tive esperanças,
Agora sei que não voltarás...
Nunca mais...
Acabou.
Fim


Odete R. Baltazar

Pedaços de mim

Pedaços de mim
Preciso juntar os pedaços de mim
Minha alma se quebrou, como se fosse um cristal
O cristal pode ser colado?
A alma também não...
Mas se quisermos podemos sim tentar
Recuperar a alma
Indo lá no fundo, buscar e compreender
O motivo de ter se quebrado
E começarmos a colar todos os pedaços
A peneirar os pensamentos
Buscando a razão e tentando junto com o coração
Entender e perdoar...
Entender porque tudo que se faz
Ou que se fala Tem um motivo
Perdoar, porque o mais nobre e verdadeiro sentimento
Nos ensina isso
Quem nessa vida não errou, magoou, mentiu, feriu, traiu?
Quem?...
E é esse o motivo que me leva a juntar os pedaços de mim
Onde em cada pedaço existe também
Um pedaço de você
Pedaços do teu carinho, da tua palavra
Do teu toque, do teu beijo
Da tua mentira, da tua solidão
Da tua Dor, da tua Alegria
De você num todo
E juntando esses pedaços
De mim e de você
Será formado um pedaço de nós
Porque valeu e ainda vale a pena
Ao juntarmos esses pedaços
Juntamos as nossas almas
Nancy Cobo

Tortura

Tortura 

Tirar dentro do peito a Emoção,

A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!... 
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento... 
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto! 
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!! 
Florbela Espanca

Descoberta

Descoberta 

 Mundo, mundo, qual imenso caminho 

se estende atrás / à frente de mim 
que lanterna luminosa me guia 
que ninfa, que fauno me fez assim? 
 Sedenta de tantas linhas escritas 
Sedenta do contorno de um verso 
POESIA, contornando todo meu sim. 
 Mundo vasto, qual caminho imenso 
vou eu devastando com meu ancinho, 
com minha pena de tinta azul. 
Pena que desliza pelo meu Norte 
Os caminhos vastos / longe do Sul. 
 Que em mim emitem frutíferos raios 
que sendo brilho são luz / são POESIA 
que me reflete / eis meu sangue azul. 
Sou rei / sou rainha deste reinado 
POESIA / meu mundo, meu vasto caminho 
Caminho que como todo poeta / Vou 
palmilhando, devastando / sozinha. 
 Regina Souza Vieira