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sábado, 28 de setembro de 2013

Eu, 4.5

Brincando de modelo.
Meu anjo favorito, sugeriu que eu postasse as fotos que fiz para marcar a estreia da nova idade.
Primeira vez,. a gente nunca esquece!!!













Devaneios

Na parada, aguardo o ônibus
Observo as pessoas que circulam ao meu redor
Fantasio os seus desatinos e destinos.
Em um momento de distração,
desviado o foco da minha atenção,

deixo o ônibus passar.

Outra vez preterida no concurso de Poemas no ônibus....
Vou persistir mais :)


Torre de névoa

Subi ao alto, à minha torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: - (Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!... )

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu !...



Florbela Espanca

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver. 

Cora Coralina 

Sob o signo da inquietação

O susto em nós foi avançar 
muito para dentro do proibido.
Muito para perto de uma zona perigosa
A boca da noite... o desconhecido...
Vagos caminhos de uma via nebulosa.

Vários conceitos para falar da mesma coisa
O susto em nós foi descobrir porteiras
de territórios nunca antes percorridos
No fundo de todos nós um visitante
No fundo, a falta de sentido...

Visitantes de nós mesmos cometíamos
a imprudência de quase enlouquecer
Para chegar à compreensão.
E uma coisa afiada nos conduzia
através da trilha da poesia
e do difícil trajeto da paixão....



Bruna Lombardi

Sem título

(...) estou aprendendo a beijar com Alain Delon.
ele fica quieto no espelho da porta do armário embutido.
no meu quarto.
o rosto em preto-e-branco brilhante
bem preso com fita durex.
e um sorriso meio Gioconda meio Don Juan, irresistível.
deixo a porta do espelho aberta.
e o olhar azul me encontra
onde eu estiver.
olhar de bandido e anjo.
de menino.
às vezes de menina.
ele me chama puxa arrasta
e eu beijo Alain de todo jeito.
quarto trancado a chave
em segredo e silêncio
a sensação que dá é que ele vai crescendo comigo,
no mesmo espelho.
cuja boca eu beijo aperto amasso e molho.
também me molho
a calcinha encharca.
sempre.
de olhos fechados.
sempre.
sinto vergonha,
dele.
e medo,
dela.

Valéria Villela

Nublando

Acordei! 
A casa estava quente como o meu corpo.
No silêncio do quarto 
a percepção
De que o amanhã havia acabado de despertar.
Entre olhos sonolentos,
O corpo arrepiado,
Transformou a superfície lisa em leves 
ondas.
Todos os músculos foram esticados.
Cada fibra estendida ao extremo.
A boca abriu-se...
Na frente o espelho revelava a silhueta,
Que dengosa percebeu suas formas delicadas
Nas curvas acentuadas. Sorri...
O tempo nublado percorreu e penetrou no 
aposento.
Intrometido!
Transformou a quietude com o suave zumbir dos ventos.
Trocou a cor pálida das paredes.
Deu vontade de cobrir, ficar 
encolhida, quieta.
Era hora da partida que não pode deixar 
para amanhã o adeus de todos os dias.
Deixei que os minutos passassem,
não fiz questão de segurá-los.
Que o tempo nublado chegasse,
penetrasse todos os meus poros.
Que as horas permitissem aos minutos serem donos do tempo.
No peito arfante os dois elementos se misturaram, nublando
Meus pensamentos.
Fizeram do corpo moradia.

Teresa Cristina Fraga

Danço com a noite

Ao som do silêncio
Da brisa do mar
Eu danço sozinha
No por do sol
Ao nascer da noite
Eu canto baixinho
Na luz do luar
Nos grãos de areia
Eu procuro você
Ao som da melodia
Me abraço com a lua
E danço pra noite. 

Rose Mary Sadalla

Aquele navio

Estava sentada, na tarde de estio,
Na beira da praia, olhando pro mar...
Ao longe avistei um enorme navio
E no encantamento me pus a cismar:
Que lindo navio!... Que histórias contém?...
Os seus passageiros, felizes serão?...
Que mares cruzou?... De que porto provém?...
Pra onde ele vai?... Que sutil sedução..
Que linda viagem minh'alma advinha...
Por que não partir e viver a ventura?...
Rever minha vida tão triste e sozinha
Há tanto sonhada, de amar com loucura...
Naquele navio... viajar sem destino...
Sair do meu mundo 
que é tão pequenino... 

Gladis Lacerda

Um dia a menos

(...) Sempre que distraidamente via seu nome escrito lembrava-se de seu 
apelido na escola primária: Margarida Flores de Enterro. Por que alguém não se 
lembrava de apelidá-la de Margarida Flores do Jardim? É que as coisas 
simplesmente não eram do seu lado. Pensou uma bobagem: até a sua pequena cara 
era de lado. Em esquina. Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia. 
Depois. 
Depois não tinha problemas de dinheiro. 
Depois havia o telefone. Telefonaria para alguém? Mas sempre que telefonava 
tinha a impressão nítida de que estava sendo importuna. Por exemplo, 
interrompendo um abraço sexual. Ou então era importuna por falta de assunto. 
E se alguém lhe telefonasse? Iria ter que conter o trêmulo da voz alegre por 
alguém enfim chamá-la. Supôs o seguinte: 
- Trim-trim-trim. 
- Alô? Sim? 
- É Margarida Flores de Jardim? 
Diante da voz masculina tão macia, responderia: 
- Margarida Flores de Bosques Floridos! 
E a cantante voz a convidaria para tomarem chá de tarde na Confeitaria 
Colombo. Lembrou-se a tempo que hoje em dia um homem não convidava para tomar 
chá com torradas e sim para um drinque. O que já complicaria as coisas: para um 
drinque se deveria ir na certa vestida de modo mais audacioso, mais misterioso, 
mais pessoal, mais... Ela não era muito pessoal. E que incomodava um pouco, não 
muito.
E, além do mais, o telefone não tocou. 

Clarice Lispector