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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Mais um sonho de consumo - impossível!

Ontem ao ouví-lo cantando "quero te pegar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher..." quase tive uma coisa ...
O sorriso é lindo, a voz é sedutora... enfim, é um homem TDB :))))))

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Recomeçando...

Para a maioria dos brasileiros, o ano começa somente após as folias de Momo que, graças aos céus, já estão acontecendo! De volta ao mundo real – para os que saíram dele.
Eu não curto carnaval e considero uma festa completamente fora da realidade cotidiana das pessoas. Neste período se esquecem das mazelas políticas, das desigualdades sociais, das injustiças e as pessoas extravasam seus comportamentos primitivos e mais libertinos. É triste ver mulheres comportando-se como mercadorias em uma feira livre, cada uma querendo chamar mais a atenção do que a outra, para valorizar o ‘produto’.
A minha vida segue normalmente, sem considerar as datas do calendário; não faço alterações ao final e início de cada ano e muita coisa aconteceu entre o ano novo e o carnaval: tive um diagnóstico de esofagite, passei 21 dias internada, fiz 3 endoscopias, diariamente, continuo o tratamento com ganciclovir no hospital-dia (pelo SUS, já que meus planos de saúde não oferecem essa modalidade de atendimento) e nesta semana, fui parar na emergência por causa de uma febre alta provocada por uma pneumonia bacteriana. O que eu fiz para merecer isso tudo? Deve estar escrito nas estrelas...
Estou afastada do atendimento público em saúde, desde que saí do movimento social e fui profissionalmente afastada do serviço público; agora, ao retornar enquanto paciente (o local onde faço o tratamento é o mesmo onde eu trabalhava), fiquei estarrecida com o descomprometimento dos meus ex-colegas de trabalho para com os pacientes. Será que sempre foi assim e eu não percebia por estar dentro da máquina? A militante que há em mim, sente-se mobilizada a fazer alguma coisa para garantir o mínimo de dignidade e respeito aos pacientes que dependem unicamente dos serviços públicos. Ao mesmo tempo, não encontro forças para modificar essa situação caótica.
O sucateamento dos serviços caminha na contramão do avanço da epidemia, há cada vez menos profissionais, inclusive médicos e, o número de pacientes tende a crescer pelo aumento da prevalência e pelo estímulo ao diagnóstico precoce. Ao mesmo tempo, percebe-se que os cuidados de prevenção estão sendo deixados de lado, em função da disseminação da informação de que aids é uma doença crônica e tratável, porém cara, em todos os sentidos, ainda que os medicamentos sejam bancados pelo sistema público; e os exames, as consultas especializadas e tudo o que se precisa para um bom monitoramento das condições de saúde é financiado por quem?
A sociedade, de um modo geral, continua discriminando as pessoas e procura se afastar daqueles que são ‘diferentes’ ou representam ‘algum risco’ para o seu bem-estar – pura ignorância que custa muito caro para quem tem que pagar o preço.
Vejo ONGs fechando as portas pelo descaso dos governos e também, porque não dizer: já não se fazem militantes como antigamente...
Desde quando ainda estava no GAPA/RS percebo que as pessoas se inserem no trabalho social com a expectativa de conseguir ascensão profissional, política e financeira – se não há benefícios próprios, não há interesse pela causa. Frente a um governo omisso, carente de políticas sociais, o terceiro setor transformou-se em um mercado lucrativo até acontecer o boom de entidades “sem fins lucrativos” e a crise financeira internacional que secou a fonte de financiamentos. As pessoas discriminadas e atendidas por essas entidades que fiquem à mercê da própria sorte e deem-se por satisfeitas por receber um péssimo atendimento e, quando convém,  migalhas de um governo assistencialista.
Se pareço revoltada, é porque há um dragão cidadão em mim que eu insisto em manter sob controle... apertei a tecla DANE-SE para o quê só me trará stress. Tenho mais é que cuidar de mim!!!!

O Perigo do dragão

Me falaram do perigo do dragão
o homem não consegue se livrar da castidade
da religião
da lei imposta da moralidade.

Dentro de mim mora o dragão
da natureza
espontâneo e suficiente
e por mais que me obriguem a fugir
não há nada que me tente
tanto.

Tem o caráter do fogo
o nervo, o temperamento
do proibido
e rompe a linha do extremo
além do sentido.

Dança o movimento sublime
ultrapassa o cerco
o limite, o crime, o desatino
além da nossa dualidade
na dimensão perigosa
de onde se extrai o destino.

Tudo está contido em tudo, cada coisa
se transforma em outra
contínuo o fio da ação
cada um carrega em si o seu oposto
a vida é o germe da destruição.

Bruna Lombardi

Autopseudobiografia

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
[Fernando Pessoa - Autopsicografia]
Finjo
um ventre exposto
para que palavras
me fecundem
Finjo
que me rendo
aos versos
como abrigo para
o eterno
Finjo
que dói
achar no espelho
cansaço e inquietude
Finjo
que ajeito
flores despencadas
cortinas tortas
travesseiros
gavetas
Finjo
que finjo
qualquer fingimento
e não mando flores
para mim mesma


Solange Firmino

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Se tudo existe

Se tudo existe é porque sou.
Mas por que esse mal estar?
É porque não estou vivendo do único modo
que existe para cada um de se viver e nem sei qual é.
Desconfortável.
Não me sinto bem.
Não sei o que é que há.
Mas alguma coisa está errada e dá mal estar.
No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo.
Abro o jogo.
Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza.
O que há então?
Só sei que não quero a impostura.
Recuso-me.
Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado.

Clarice Lispector

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Tem acompanhante?

em 26.01.2012 – 16h30m
Durante o último mês, necessitei buscar serviços de emergência médica e a primeira pergunta feita sempre foi: “tem acompanhante?”
Após o diagnóstico quando, finalmente fui encaminhar a documentação para a hospitalização, o atendente administrativo pergunta-me: “o que a senhora é da paciente?” (ai meus sais!!!!)
Nesses longos e chatos dias de internação, passei a refletir sobre essa questão; por que uma pessoa que escolheu viver só, é responsável por si mesma, resolvendo individualmente todos os problemas do cotidiano, necessita estar acompanhada no momento de procurar auxílio hospitalar? Quando você torna-se paciente, involuntariamente, perde a sua autonomia, é alijado dos seus desejos, a máquina burocrática solicita sempre que ‘um familiar ou acompanhante’ autorize ou solicite algo por você – não interessa o teu estado de consciência, você não é considerado responsável, por encontrar-se doente, mesmo que mentalmente saudável.
Ainda nessa internação, antes de fazer uma endoscopia, a auxiliar liga para o meu quarto perguntando se eu tinha “condições de assinar um termo”. Haja paciência para agüentar ser tratada como incapaz....
A tua rotina de banho e alimentação é determinada por outras pessoas; o ‘cliente’, assim são chamados os pacientes agora, deixa de ser dono do próprio nariz até nas pequenas coisas... não é à toa que se precisa de um tempo de convalescença para voltar à rotina diária e recuperar o EU esmagado e sufocado durante a internação.
Escrevo esse texto enquanto estou no hospital, invadida pelo tédio, esperando o jantar (uma sopa creme de abóbora ou uma canja, servida enquanto o sol ainda está alto) e a troca de plantão para receber a minha medicação....
Mesmo eu tendo o direito a acomodações privativas, estou agora em um quarto duplo (casualmente o outro leito está vago no momento – já passaram 3 pacientes por ele, desde que vim para esse quarto). Tive a sorte de ter ‘companheiras’ de quarto agradáveis e com quem pude conversar para me distrair enquanto o medicamento pulsava lentamente para dentro do meu organismo, me deixando presa à cama – e a sensação é essa mesmo: de estar em uma prisão, sem direitos ou vontades próprias, seguindo as orientações de pessoas que você não conhece.
Além de ter confirmado as minhas crenças de que esse hospital não é bom – vim para cá por necessidade e falta de opção – devo levar na bagagem de volta algum aprendizado, como a importância da paciência, a tolerância com as regras e os diferentes modos de ser e agir e a necessidade de ser mais benevolente.

...Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria...

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida.... (Milton Nascimento)