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sábado, 14 de dezembro de 2013

Entre cordeiros e lobos, o que nos resta?

Há tempos, ouço relatos de profissionais e usuários dos serviços de saúde – pública ou privada – sobre experiências vividas durante o processo de acompanhamento ou monitoramento da saúde. Enquanto profissional de saúde e paciente, fico estarrecida com os descalabros cometidos por àquelas e àqueles que escolheram o cuidado com o bem-estar físico e mental do ser humano como profissão.
Se, por um lado, existem profissionais que se empenham em solucionar as demandas trazidas pelos pacientes, de uma forma ampla (eu me considerava uma delas)  por outro, grande parte daqueles que prestam atendimento à população, estão mais preocupados em ‘se livrar’ dos problemas o mais rapidamente possível: escutar aquela pessoa fragilizada que está à nossa frente, dá muito trabalho e provoca sensações internas que podem trazer desconforto; melhor passar o caso adiante e deixar que o paciente elabore sozinho (com as ferramentas que não tem, na maioria das vezes) o seu sofrimento...
Mesmo na área da saúde, o trabalho é visto somente como uma forma de trazer o ‘sustento para casa’ e, é feito com qualidade e dedicação, somente por aquelas e aqueles que têm a chamada vocação para o cuidado. Assim como político é representação e não profissão, profissional de saúde precisa ter devoção ao trabalho – a remuneração é necessária (nem sempre justa), mas não deve ser o principal fator motivador.
Ao longo dos meus quase 50 anos, tive o privilégio de conhecer excelentes profissionais que se dedicam integralmente aos pacientes, mas também tive o desprazer de vivenciar situações pelas quais ninguém precisa passar. O julgamento moral, o descaso, o ar de superioridade são feridas abertas desnecessariamente quando se atravessa um momento delicado de vida e a saúde está fragilizada, onde tudo o que se precisa é de acolhimento, atenção e cuidado.
Em outra perspectiva, me recordo de uma amiga que sempre citava a importância de ‘cuidar do cuidador’; o trabalhador em saúde é maltratado pelo sistema que deixa de oferecer condições estruturais para um atendimento digno e oferece uma baixa remuneração, o que leva muitos trabalhadores a terem vários empregos para adquirir alguma saúde financeira em detrimento da sua própria saúde física e mental. E isso acaba por refletir, no atendimento prestado, seja no posto de saúde ou no consultório particular.
Alguns pacientes, revoltados com o sistema que prioriza o capital, dirigem sua indignação àquela ou àquele que está ao seu serviço e, enquanto pessoa, também sofre as conseqüências do desmantelamento do Estado.
As relações entre profissionais de saúde e pacientes, precisa ser dialética, com cada um dos atores desempenhando o seu melhor papel na busca da qualidade de vida de todas e todos.

As pessoas merecem ser tratadas como tratam as demais, o que fazemos aos outros reflete em nós e essa premissa deveria estar em nossa consciência, independente de credo, guiando as nossas ações.

sábado, 28 de setembro de 2013

Eu, 4.5

Brincando de modelo.
Meu anjo favorito, sugeriu que eu postasse as fotos que fiz para marcar a estreia da nova idade.
Primeira vez,. a gente nunca esquece!!!













Devaneios

Na parada, aguardo o ônibus
Observo as pessoas que circulam ao meu redor
Fantasio os seus desatinos e destinos.
Em um momento de distração,
desviado o foco da minha atenção,

deixo o ônibus passar.

Outra vez preterida no concurso de Poemas no ônibus....
Vou persistir mais :)


Torre de névoa

Subi ao alto, à minha torre esguia,
Feita de fumo, névoas e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo o dia.

Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: - (Que fantasia,

Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!... )

Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu !...



Florbela Espanca

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver. 

Cora Coralina 

Sob o signo da inquietação

O susto em nós foi avançar 
muito para dentro do proibido.
Muito para perto de uma zona perigosa
A boca da noite... o desconhecido...
Vagos caminhos de uma via nebulosa.

Vários conceitos para falar da mesma coisa
O susto em nós foi descobrir porteiras
de territórios nunca antes percorridos
No fundo de todos nós um visitante
No fundo, a falta de sentido...

Visitantes de nós mesmos cometíamos
a imprudência de quase enlouquecer
Para chegar à compreensão.
E uma coisa afiada nos conduzia
através da trilha da poesia
e do difícil trajeto da paixão....



Bruna Lombardi

Sem título

(...) estou aprendendo a beijar com Alain Delon.
ele fica quieto no espelho da porta do armário embutido.
no meu quarto.
o rosto em preto-e-branco brilhante
bem preso com fita durex.
e um sorriso meio Gioconda meio Don Juan, irresistível.
deixo a porta do espelho aberta.
e o olhar azul me encontra
onde eu estiver.
olhar de bandido e anjo.
de menino.
às vezes de menina.
ele me chama puxa arrasta
e eu beijo Alain de todo jeito.
quarto trancado a chave
em segredo e silêncio
a sensação que dá é que ele vai crescendo comigo,
no mesmo espelho.
cuja boca eu beijo aperto amasso e molho.
também me molho
a calcinha encharca.
sempre.
de olhos fechados.
sempre.
sinto vergonha,
dele.
e medo,
dela.

Valéria Villela

Nublando

Acordei! 
A casa estava quente como o meu corpo.
No silêncio do quarto 
a percepção
De que o amanhã havia acabado de despertar.
Entre olhos sonolentos,
O corpo arrepiado,
Transformou a superfície lisa em leves 
ondas.
Todos os músculos foram esticados.
Cada fibra estendida ao extremo.
A boca abriu-se...
Na frente o espelho revelava a silhueta,
Que dengosa percebeu suas formas delicadas
Nas curvas acentuadas. Sorri...
O tempo nublado percorreu e penetrou no 
aposento.
Intrometido!
Transformou a quietude com o suave zumbir dos ventos.
Trocou a cor pálida das paredes.
Deu vontade de cobrir, ficar 
encolhida, quieta.
Era hora da partida que não pode deixar 
para amanhã o adeus de todos os dias.
Deixei que os minutos passassem,
não fiz questão de segurá-los.
Que o tempo nublado chegasse,
penetrasse todos os meus poros.
Que as horas permitissem aos minutos serem donos do tempo.
No peito arfante os dois elementos se misturaram, nublando
Meus pensamentos.
Fizeram do corpo moradia.

Teresa Cristina Fraga

Danço com a noite

Ao som do silêncio
Da brisa do mar
Eu danço sozinha
No por do sol
Ao nascer da noite
Eu canto baixinho
Na luz do luar
Nos grãos de areia
Eu procuro você
Ao som da melodia
Me abraço com a lua
E danço pra noite. 

Rose Mary Sadalla

Aquele navio

Estava sentada, na tarde de estio,
Na beira da praia, olhando pro mar...
Ao longe avistei um enorme navio
E no encantamento me pus a cismar:
Que lindo navio!... Que histórias contém?...
Os seus passageiros, felizes serão?...
Que mares cruzou?... De que porto provém?...
Pra onde ele vai?... Que sutil sedução..
Que linda viagem minh'alma advinha...
Por que não partir e viver a ventura?...
Rever minha vida tão triste e sozinha
Há tanto sonhada, de amar com loucura...
Naquele navio... viajar sem destino...
Sair do meu mundo 
que é tão pequenino... 

Gladis Lacerda

Um dia a menos

(...) Sempre que distraidamente via seu nome escrito lembrava-se de seu 
apelido na escola primária: Margarida Flores de Enterro. Por que alguém não se 
lembrava de apelidá-la de Margarida Flores do Jardim? É que as coisas 
simplesmente não eram do seu lado. Pensou uma bobagem: até a sua pequena cara 
era de lado. Em esquina. Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia. 
Depois. 
Depois não tinha problemas de dinheiro. 
Depois havia o telefone. Telefonaria para alguém? Mas sempre que telefonava 
tinha a impressão nítida de que estava sendo importuna. Por exemplo, 
interrompendo um abraço sexual. Ou então era importuna por falta de assunto. 
E se alguém lhe telefonasse? Iria ter que conter o trêmulo da voz alegre por 
alguém enfim chamá-la. Supôs o seguinte: 
- Trim-trim-trim. 
- Alô? Sim? 
- É Margarida Flores de Jardim? 
Diante da voz masculina tão macia, responderia: 
- Margarida Flores de Bosques Floridos! 
E a cantante voz a convidaria para tomarem chá de tarde na Confeitaria 
Colombo. Lembrou-se a tempo que hoje em dia um homem não convidava para tomar 
chá com torradas e sim para um drinque. O que já complicaria as coisas: para um 
drinque se deveria ir na certa vestida de modo mais audacioso, mais misterioso, 
mais pessoal, mais... Ela não era muito pessoal. E que incomodava um pouco, não 
muito.
E, além do mais, o telefone não tocou. 

Clarice Lispector

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Avesso

Como ventania
e mar revolto,
é a minha paixão 
cálida, inacabada...
saudade impaciente,
poetizada!
Avesso, a calmaria...
O teu silêncio,
desértico...
que provoca tormento,
tal qual areia fina na pele ao vento.
Teu avesso, minha ilusão
Um oásis não encontrado,
que deixa sede na alma,
desidrata fantasias
e perpetua a emoção.

Monica Amelia M. C. Lima

Princípio

Na paixão de um homem, na inquietude 
das feras, no vermelho 
que o fio 
da lâmina provoca
o olho acostumado a perscrutar 
as máscaras, as almas, o 
que não se confessa. 
Na origem profunda do ser 
Onde tudo começa 
na sua luta contra o tempo 
e contra a natureza 
em tudo há o 
desgaste 
em tudo o conflito se apresenta 
raiz do ataque e defesa 
há o mar, a fúria do mar 
e a força da rocha que o enfrenta.

Bruna Lombardi

Do mundo

Atravessa ruas
na calçada tropeça
sem pressa
destino incerto
qualquer lugar
é lugar de chegar
sabe o nome das ruas
o seu, nem lembra mais
no mundo inteiro 
não tem morada
nada mais tem
vai onde quer
vida sem destino
ja houve desatino
segue o tempo seu ritmo
ela pelo mundo 
sem rumo


Adelia Einselfeldt

Outono

A força luminosa do outono
Na natureza e na vida,
Serenidade.
Corpo e alma livres,
Comungando a paz,
Sensualidade.
Desejos saciados, libertos,
Buscando outros outonos
Dispersos.
Esperas, lembranças,
Saudades.

Claudette Grazziotin 

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda 
envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma 
beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto 
escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, funso reinos
dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adelia Prado

Vou morar no facebook

 Tempos atrás eu conversava com alguém que gosto muito e aprendi a admirar, nestas longas conversas regadas a cerveja e dramas filosóficos comentamos sobre o local ideal para morar. Eu um rapaz interiorano, meio caipira e simples demais falei de quão bom era morar em Corupá porém ela me falou o seguinte : "Eu sou meio cigana, não consigo ficar muito tempo em um lugar apenas... Meu pai  quando eu era adolescente falou que ia comprar um trailer, então falei a ele que se comprasse iria morar com ele ... penso que seu um dia eu tiver uma casa, vendo e vou morar de aluguel apenas para poder me mudar mais vezes.." E assim ficou no ar nossa conversa sobre onde morar. Com o passar do tempo este pensamento ficou em minha cabeça: Onde morar?? E com o passar do tempo  descobri o local ideal para morar, vou morar no PLANETA  FACEBOOK!!
Ah! O Facebook  é o local ideal para morar, não consigo pensar em lugar melhor pois todos no Facebook são politizados, um povo consciente sobre seu governo, não vendem voto jamais, admiram professores e todos respeitam leis de transito! No Facebook todos acordam de bom humor e já pela manhã leem Clarice Lispector, divagam sobre Aristóteles, discutem Nietsche e vivem os ensinamentos de Gandhi, mesmo que isso pareça paradoxal! Neste local chamado Facebook todos amam os animais, cachorrinhos, gatinhos, minhocas e lesmas, como são fofas as lesmas na parede junto com as pererecas lindinhas, sim quando moravam na terra prendiam os animais em cubículos,  as vezes umas boas palmadas  e alguns até abandonaram na frente de um restaurante cestos de gatinhos mas, isto foi em outro planeta, não no Facebook!!
Este Planeta é incrível pois por mais que você conheça a pessoa quando ela muda-se para o "FACE" torna-se loira, magra e de olhos azuis . Mas claro, não todos, alguns continuam gordinhos mas estes são super felizes com sua forma física mesmo que na Terra antes da conversão você lembre deles na farmácia desesperados comprando propelente ,zantrex-3 e outros mas neste novo planeta ninguém vai te criticar e você e lindo da maneira que for! E meu amigo, no Face  todos são fieis, casais se conhecem hoje, apaixonam-se amanhã e querem viver juntos para o resto da vida e ainda vão declarar isto para todo mundo! Uma das melhores coisas do Facebook e que lá ninguém gosta de funk, somente musica com "conteúdo", todos são contra o consumismo desenfreado e modinhas temporárias, ver a lua no céu falar sobre estrelas  e o quanto é bom proteger a natureza reciclando todos os dejetos e jamais falar da vida alheia isto com certeza torna o  planeta maravilhoso!
Mas penso, se todo mundo que vai morar no planeta Facebook é daqui do planeta Terra por que aqui não é assim?? Por que não transformamos o local que moramos neste maravilhoso  paraíso? Por que não começamos realmente a adotar animais, regar flores e amar o próximo? E realmente alguém já leu Clarice Lispector? Por estas e outras que penso que o Facebook deveria se chamar Hipocritabook, onde todos inclusive e principalmente este que vos escreve, tem seus momentos de hipocrisia tentando mostrar ao mundo o quanto este é perfeito e esquecendo de tornar perfeito o mundo em que vive!
 Pensando bem, vou continuar morando em Corupá, um local lindo, privilegiado pela natureza e abençoado por DEUS, tem fofoca, brigas, intrigas, mulheres bonitas, homens cafajestes e também bonitos, muita gente honesta e alguns velhacos mas ainda assim é o local que escolhi para morar. Minha amiga cigana ainda procura o local ideal quem sabe um dia ela conheça Corupá e se apaixone por este paraíso que não é o FACEBOOK mas é real e extremamente apaixonante!

Emerson Ruthes

texto extraído do blog http://poesiascronicaseloucuras.blogspot.com.br/

sábado, 4 de maio de 2013

Princesa Desalento

Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento! É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento... Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta! O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...


Florbela Espanca

sábado, 27 de abril de 2013

Sucata e purpurina

            Afastada do movimento social e da atividade profissional há algum tempo, por vezes me deparo com a ‘real realidade’ que vivem os serviços de saúde especializados em DST/aids, as pessoas soropositivas ou doentes de aids e o movimento social de luta e prevenção à aids.
Como esperado, o governo municipal fala que está investindo em prevenção primária, descentralizando a testagem anti-HIV para as unidades básicas de saúde preconizando “o apoio matricial como dispositivo de intervenção junto à atenção básica, pautado pela noção de território, intersetorialidade, integralidade, considerando o trabalho organizado pelo princípio de responsabilidade compartilhada entre a equipe de referência e serviços especializados, e o estabelecimento da continuidade na atenção em saúde...” mas, na prática é isso que acontece? O governo estadual compartilha desta filosofia adotando a responsabilidade compartilhada, em especial aqui em Porto Alegre, onde acabam desembocando pacientes de todos os rincões do Estado?
Há muito me preocupo com a assistência prestada, de que adianta saber a sorologia se você não terá garantia de um atendimento mínimo? O diagnóstico precoce, ao invés de servir para antecipar os agravos na saúde dos que vivem com HIV, surge como mais uma problemática, ao se considerar os danos psíquicos que a falta do acompanhamento irá trazer.
Os postos de saúde gerenciados pelo município, seguem encaminhando os pacientes com aids para os serviços especializados que estão cada vez mais, superlotados e sucateados – fico horrorizada ao pensar nos homens e mulheres que dependem unicamente do SUS para monitorar a sua saúde e controlar a infecção pelo HIV. Os profissionais lotados nos serviços básicos, simplesmente ‘transferem’ os pacientes: o problema deixa de ser deles, passando a um outro nível que se encontra saturado pela ausência de investimentos.
O governo estadual, que deveria atuar na capacitação, deixa os profissionais de saúde que atuam na área, por sua conta e risco: ao se deparar com os pacientes encaminhados pelos serviços básicos, que não fazem o seu serviço, precisam se contorcer para evitar que tudo fique ao “Deus dará”; para amenizar, presta uma assistência meia-boca à população, já que essa não é sua função...
Não ouço falar de ações do movimento social para denunciar o descaso dos governos, os ‘ativistas’  encontram-se acomodados e confortáveis em seus postos de representação e não estão preocupados em buscar formas alternativas de enfrentamento para velhas e novas infecções.
Eu tenho formação em saúde comunitária, os princípios do matriciamento são os preconizados na Lei 8080/90, que regulamenta o SUS e que traz no seu artigo 1º: “os serviços de saúde devem assegurar acesso para a promoção, proteção e recuperação da saúde” – tríade indispensável para o bom funcionamento do sistema.
Os astros e estrelas, dos diferentes setores, reúnem-se em inúmeros seminários e encontros que objetivam, na teoria, elucidar as questões referentes à epidemia; na prática, se efetiva como um espaço de gasto exacerbado do dinheiro público e espaços de exibicionismo individual – as pessoas que vivem com aids são um mal necessário e, totalmente secundárias ao processo. Me refiro aqui, não àquelas e àqueles que fazem de conta que representam o movimento social mas, à população, que vai ao serviço buscar atendimento e não encontra resolutividade para a sua demanda, qualquer que seja.
Em que momento ocorrerão mudanças que impactem na vida da população?
Desacredito de que os atores responsáveis, tomarão as rédeas daquilo que lhes compete.
E as pessoas atingidas pela aids? Cada um por si e salve-se quem puder!!

Celia Ruthes
Abril/2013

sábado, 20 de abril de 2013

Soltando a imaginação

Me aventurando na arte do scrapbooking...














Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão. 

Cecilia Meireles

Alma em liberdade


Vá alma, és livre
vá voe para longe
para alem das nuvens
e leve consigo a serenidade
que encontras no infinito.
Vá alma liberta
voe com os passaros
de asas bem abertas
cumprimente o sol
mostre a ele sua felicidade
cumprimente o céu azul
fale de sua serenidade
da paz que é a liberdade.
Vá alma querida
vagueie em busca da
tranquilidade merecida
esqueça as dores, as ofensas
sofridas...
hoje voce é livre,
Voe bem leve, lépida
me de sua guarida
traga-me de novo o sorriso
que deixei morrer
enxuga-me o doloroso pranto
pelo sofimento causado
pela sua cruel partida!


Arneyde T. Marcheschi

Um minuto de mim


Um minuto de mim 
e tão somente isso.
Pra que mais se só isso bastaria?
Um minuto nos leva, nos traz, nos transporta
Acende nossas vidas com chamas trepidantes de emoções.
Um minuto nos impressiona, nos impulsiona e nos faz viver
Leva-nos ao imenso mundo de amor,
Mas nos retoma chances, dando-nos então a dor.
Um minuto apenas, tão diminuto leva à letargia um corpo
caído que já não canta mais.
Para sabermos o que significa um minuto, basta permitir
que a chuva forte preencha o côncavo de nossas mãos.
Então fechando-a veremos esse tempo fugindo, escorregando, escorrendo e esvaindo.
Um minuto de nossa vida não se acaba jamais, ele apenas
acontece, passa e paira, e de quando em quando retorna
a nós nos fazendo reviver aquilo que foi e como foi.
Um minuto pode ser a chuva, o olhar reluzente, o choro
cansado e triste, a intrepidez de um coração que insiste o inganhável.
Um minuto nasce e morre em choro.
A flor e até mesmo as rochas se transformam de minuto a
minuto e assim nós nos transformamos também; mas nem
tudo se torna visível aos olhos alheios.
Enxergamos apenas até ali, o acolá não vemos mais; além
do muro somos incapazes de ver.
Em apenas um minuto deixamos de ser ou de existir, mas
deixamos também tudo de nós.
Um minuto de mim
levou vozes, semblantes,
olhares penetrantes.
Tirou-me lágrimas,
provocou-me tristezas,
devolvendo-me em saudades.
Um minuto de mim,
ainda haverá muitos.
Ondas de choro e riso
virão e irão
como ondas do mar.
Um minuto de mim, nada mais que isso
para se provar de tudo o que há.


Sandra Aparecida Gama

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Tão certa

"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"


Cecília Meireles

Alma penada


"A alma penada não voa
anda
curvada
sob o peso
das penas
que faltam"


Valéria Villela

Outono


Gotas de orvalho
molhando a flor e a avezinha.
Fresca madrugada.
Gotas de orvalho.
Sobre a folha escorregadia
saltita o grilo.
Horizonte rubro.
Ave branca atravessando
branco do luar.


Zuleika dos Reis

sábado, 2 de março de 2013

Poesias

Aconteceu o que eu temia
A poesia que eu escrevia
Não saiu daquelas linhas
O amor que eu ainda tinha
Só ficou na melodia
E nas pequenas poesias.
Você, que um dia me iludia
Não sabia o que perdia
No dia que eu partia.
Agora espero pelo dia
Em que minhas poesias...
Ah como eu queria!
Que elas saíssem daquelas linhas!....

Vivian Schatz

Esperança

Esperança é a vida que desperta
É o auge de uma alma que padece
Esperança é um sinal, é um alerta
Para todo coração que se entristece

Esperança é um riso repentino
É um ânimo que surge sem querer
É um amanhecer, tão vespertino
Que nos desperta a vontade de vencer

Esperança é a chuva que desaba
É a pausa na manhã que se perdeu
É o relâmpago que no infinito se acaba
É o que resta de quem sobreviveu!

Esperança é o lapso da mente
Um mistério que ludibria a razão
É um poder sutil e displicente
Que enfeita docemente o coração

Esperança é o gozo sem prazer
Um gesto farto, uma luta inconsciente
É a determinação de se obter
Conquistas sem precedentes...

Esperança é o trabalho
É esforço, constância, é a dor
E tudo isso é apenas um retalho
Prefácio vago do que é o amor

Esperança... Um estado enigmático
Performance defensiva de coragem
Tributo consciente e pragmático
De quem deseja prosseguir sua viagem...


Priscila de Loureiro Coelho

O anjo poeta

Dentro de mim mora um anjo
que em sussurros, dita as palavras
que escrevo no papel.
Minha caneta dispara alucinada,
enlouquecendo meus pensamentos,
que acelerados, por vezes, se confundem
com a realidade correndo lá fora.
Dentro de mim mora um anjo
que traduz em palavras,
todos os sentimentos de uma vida,
libertando assim, o meu eu.
Dentro de mim mora um anjo
que me faz poeta, com a missão
de aquecer seu coração
com minhas palavras.
O poeta, é assim: um pouco insano!
Descreve coisas as quais nunca viveu,
com os sentimentos de quem presenciou.
É uma doce mistura do real e do irreal.

Simone Borba Pinheiro

Mil mulheres

Já fui tantas mulheres..
a que foi traída
a que traiu
a que foi esquecida
a que esqueceu
a menina
a safada
a insegura
a apaixonada...
Já fui tantas mulheres...
a sonhadora indefesa
a loba faminta e malvada..
a boa
a ma..
a escrava...
a que prendia os laços
a que soltava...resignada...
já fui tantas mulheres...
perdi carinho
pelo caminho..
amores sonhos
devagarzinho...
sobrevivente
vítima
indecente...
já fui tantas mulheres...
vesti a fantasia de alegria
no palco certo
a fala errada...
perdi bons homens
na caminhada..
Mas de todas as cenas
pelas quais passei
esta fé insistente
nunca matei
E das andanças e mudanças
que vier...
eu me arrebento
me levanto,
arrumo o sapato quebrado
o cabelo assanhado
e sigo..
Pois sou mulher!!

Silvane Saboia

Ser mulher

Ser mulher é amar calada,
Ser muito desejada,
É estar sempre linda,
Saber compor uma mesa,
Ser loba faminta na cama,
É saber falar, e muito mais
saber calar,
É ser guerreira, enfrentar a dor,
a doença, o desemprego, o desamor,
E mesmo assim, sorrir, falar de amor,
Ser mulher é saber ser homem ser criança,
É virar bicho se for preciso,
Pra se defender, pra se proteger,
Deixar de sofrer...
Ser mulher, é ser frágil, carente,
É também ser forte, independente,
É ser mãe, amante, profissional, enfermeira,
Ser mulher é ser acima de tudo valente!
É amar, amar, amar, amar e amar também.
Ser mulher...


Silvana Cervantes

Meditação à beira de um poema

Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira
constelada,
os botões,
Alguns já com rosa- pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizam-se
diante do recorrente milagre.
maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro
Adelia Prado

Lembranças

Lembranças... quem não as tem
Cravadas no coração
Lembranças são companheiras
São inimigas também
São elas a grande atração
Desta vida passageira...

Lembranças ... quem não as tem
Esquecidas na memória
Revividas na ilusão?!
Herança que é de ninguém
Lança que conta uma estória
Na dança da imaginação

Lembranças ... quem as esquece
Por mais que o deseje fazer
Nos resquícios da razão?!
Lembranças, bagagem que cresce
Na trilha do sobreviver
Nas vias da solidão!

Lembranças ... quem não as tem
Não importa a idade
Não existe condição
Lembranças chegam e partem
Se alojam na saudade
E de lá, não saem não

Lembranças ... culto à verdade
Escoro da hipocrisia
Fuga cômoda e gentil
Compete com a realidade
A certeza, desafia
De tudo o que já resistiu...

Lembranças são pensamentos
Divertimentos hostis
Atrevimento ousadia!
Lembranças são meros momentos
De quem se julga feliz
Tendo-as por companhia!


Priscila Coelho

sábado, 12 de janeiro de 2013

Para suportar


Para suportar a dor
que invade sorrateira a alma
há que se ter fé e luz
há que se ter coragem...
há que se ter amor.
ou alguém para amar...

Para suportar a mágoa
há que se chorar baixinho
há que se cobrir de luto
há que se sentar sozinho
ou pensar apenas no ontem
enquanto seus olhos brilhavam...

Para suportar a ausência
há que se recolher no passado
há que se ter orgulho de tê-lo visto
conhecido, mesmo que seja de longe
mesmo que com outros olhos
outras roupas, outra alma...

Para suportar
há que se congelar o coração
há que se dar asas a coragem
e vestir-se de loucura
na esperança de perder-se nela
e por mim esquecer
que se perdeu
o que se perdeu...


Maria Clara Oliveira

Alta tensão


Eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.


Bruna Lombardi

Sonho místico


Sonhei que estava sozinha
mas tambem acompanhada
que insensatez essa minha
sentir-me só, mas amparada.
em redor, a natureza
no esplendor de sua beleza
e nas ondas do verde mar
vi ondinas a flutuar...
criaturas alegres e belas
sorriam para mim , acenavam
queria nadar com elas
mas as ninfas não deixavam...
que maravilha e encanto,
estava agora na floresta
ouvindo um doce canto
eram duendes em festa!
pequenos seres encantados
dispersaram meus sentidos
uns de pé outros sentados
todos em cores vestidos.
olhei para o céu agora
lindas sílfides sorriam
com raios de luz enfeitando
nuvens e nuvens afora...
brancas azuis ou mesmo rosas
leves como uma pluma
eram todas tão formosas
foram se esvaindo uma a uma...
senti um calor gostoso
de um fogo crepitando
eram lindas salamandras
com todo seu corpo brilhando...
seria um sonho somente
ou uma realidade sonhada
so sei que novamente
quero sonhar acordada!....

Thereza Mattos