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sábado, 14 de dezembro de 2013

Entre cordeiros e lobos, o que nos resta?

Há tempos, ouço relatos de profissionais e usuários dos serviços de saúde – pública ou privada – sobre experiências vividas durante o processo de acompanhamento ou monitoramento da saúde. Enquanto profissional de saúde e paciente, fico estarrecida com os descalabros cometidos por àquelas e àqueles que escolheram o cuidado com o bem-estar físico e mental do ser humano como profissão.
Se, por um lado, existem profissionais que se empenham em solucionar as demandas trazidas pelos pacientes, de uma forma ampla (eu me considerava uma delas)  por outro, grande parte daqueles que prestam atendimento à população, estão mais preocupados em ‘se livrar’ dos problemas o mais rapidamente possível: escutar aquela pessoa fragilizada que está à nossa frente, dá muito trabalho e provoca sensações internas que podem trazer desconforto; melhor passar o caso adiante e deixar que o paciente elabore sozinho (com as ferramentas que não tem, na maioria das vezes) o seu sofrimento...
Mesmo na área da saúde, o trabalho é visto somente como uma forma de trazer o ‘sustento para casa’ e, é feito com qualidade e dedicação, somente por aquelas e aqueles que têm a chamada vocação para o cuidado. Assim como político é representação e não profissão, profissional de saúde precisa ter devoção ao trabalho – a remuneração é necessária (nem sempre justa), mas não deve ser o principal fator motivador.
Ao longo dos meus quase 50 anos, tive o privilégio de conhecer excelentes profissionais que se dedicam integralmente aos pacientes, mas também tive o desprazer de vivenciar situações pelas quais ninguém precisa passar. O julgamento moral, o descaso, o ar de superioridade são feridas abertas desnecessariamente quando se atravessa um momento delicado de vida e a saúde está fragilizada, onde tudo o que se precisa é de acolhimento, atenção e cuidado.
Em outra perspectiva, me recordo de uma amiga que sempre citava a importância de ‘cuidar do cuidador’; o trabalhador em saúde é maltratado pelo sistema que deixa de oferecer condições estruturais para um atendimento digno e oferece uma baixa remuneração, o que leva muitos trabalhadores a terem vários empregos para adquirir alguma saúde financeira em detrimento da sua própria saúde física e mental. E isso acaba por refletir, no atendimento prestado, seja no posto de saúde ou no consultório particular.
Alguns pacientes, revoltados com o sistema que prioriza o capital, dirigem sua indignação àquela ou àquele que está ao seu serviço e, enquanto pessoa, também sofre as conseqüências do desmantelamento do Estado.
As relações entre profissionais de saúde e pacientes, precisa ser dialética, com cada um dos atores desempenhando o seu melhor papel na busca da qualidade de vida de todas e todos.

As pessoas merecem ser tratadas como tratam as demais, o que fazemos aos outros reflete em nós e essa premissa deveria estar em nossa consciência, independente de credo, guiando as nossas ações.

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