Há tempos, ouço relatos de profissionais e usuários
dos serviços de saúde – pública ou privada – sobre experiências vividas durante
o processo de acompanhamento ou monitoramento da saúde. Enquanto profissional
de saúde e paciente, fico estarrecida com os descalabros cometidos por àquelas
e àqueles que escolheram o cuidado com o bem-estar físico e mental do ser
humano como profissão.
Se, por um lado, existem profissionais que se
empenham em solucionar as demandas trazidas pelos pacientes, de uma forma ampla
(eu me considerava uma delas) por outro,
grande parte daqueles que prestam atendimento à população, estão mais
preocupados em ‘se livrar’ dos problemas o mais rapidamente possível: escutar
aquela pessoa fragilizada que está à nossa frente, dá muito trabalho e provoca
sensações internas que podem trazer desconforto; melhor passar o caso adiante e
deixar que o paciente elabore sozinho (com as ferramentas que não tem, na
maioria das vezes) o seu sofrimento...
Mesmo na área da saúde, o trabalho é visto
somente como uma forma de trazer o ‘sustento para casa’ e, é feito com
qualidade e dedicação, somente por aquelas e aqueles que têm a chamada vocação para o cuidado. Assim como
político é representação e não profissão, profissional de saúde precisa ter
devoção ao trabalho – a remuneração é necessária (nem sempre justa), mas não
deve ser o principal fator motivador.
Ao longo dos meus quase 50 anos, tive o
privilégio de conhecer excelentes profissionais que se dedicam integralmente
aos pacientes, mas também tive o desprazer de vivenciar situações pelas quais
ninguém precisa passar. O julgamento moral, o descaso, o ar de superioridade são
feridas abertas desnecessariamente quando se atravessa um momento delicado de
vida e a saúde está fragilizada, onde tudo o que se precisa é de acolhimento,
atenção e cuidado.
Em outra perspectiva, me recordo de uma amiga
que sempre citava a importância de ‘cuidar do cuidador’; o trabalhador em saúde
é maltratado pelo sistema que deixa de oferecer condições estruturais para um
atendimento digno e oferece uma baixa remuneração, o que leva muitos
trabalhadores a terem vários empregos para adquirir alguma saúde financeira em
detrimento da sua própria saúde física e mental. E isso acaba por refletir, no
atendimento prestado, seja no posto de saúde ou no consultório particular.
Alguns pacientes, revoltados com o sistema que
prioriza o capital, dirigem sua indignação àquela ou àquele que está ao seu
serviço e, enquanto pessoa, também sofre as conseqüências do desmantelamento do
Estado.
As relações entre profissionais de saúde e
pacientes, precisa ser dialética, com cada um dos atores desempenhando o seu
melhor papel na busca da qualidade de vida de todas e todos.
As pessoas merecem ser tratadas como tratam as
demais, o que fazemos aos outros reflete em nós e essa premissa deveria estar
em nossa consciência, independente de credo, guiando as nossas ações.
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