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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Recomeçando...

Para a maioria dos brasileiros, o ano começa somente após as folias de Momo que, graças aos céus, já estão acontecendo! De volta ao mundo real – para os que saíram dele.
Eu não curto carnaval e considero uma festa completamente fora da realidade cotidiana das pessoas. Neste período se esquecem das mazelas políticas, das desigualdades sociais, das injustiças e as pessoas extravasam seus comportamentos primitivos e mais libertinos. É triste ver mulheres comportando-se como mercadorias em uma feira livre, cada uma querendo chamar mais a atenção do que a outra, para valorizar o ‘produto’.
A minha vida segue normalmente, sem considerar as datas do calendário; não faço alterações ao final e início de cada ano e muita coisa aconteceu entre o ano novo e o carnaval: tive um diagnóstico de esofagite, passei 21 dias internada, fiz 3 endoscopias, diariamente, continuo o tratamento com ganciclovir no hospital-dia (pelo SUS, já que meus planos de saúde não oferecem essa modalidade de atendimento) e nesta semana, fui parar na emergência por causa de uma febre alta provocada por uma pneumonia bacteriana. O que eu fiz para merecer isso tudo? Deve estar escrito nas estrelas...
Estou afastada do atendimento público em saúde, desde que saí do movimento social e fui profissionalmente afastada do serviço público; agora, ao retornar enquanto paciente (o local onde faço o tratamento é o mesmo onde eu trabalhava), fiquei estarrecida com o descomprometimento dos meus ex-colegas de trabalho para com os pacientes. Será que sempre foi assim e eu não percebia por estar dentro da máquina? A militante que há em mim, sente-se mobilizada a fazer alguma coisa para garantir o mínimo de dignidade e respeito aos pacientes que dependem unicamente dos serviços públicos. Ao mesmo tempo, não encontro forças para modificar essa situação caótica.
O sucateamento dos serviços caminha na contramão do avanço da epidemia, há cada vez menos profissionais, inclusive médicos e, o número de pacientes tende a crescer pelo aumento da prevalência e pelo estímulo ao diagnóstico precoce. Ao mesmo tempo, percebe-se que os cuidados de prevenção estão sendo deixados de lado, em função da disseminação da informação de que aids é uma doença crônica e tratável, porém cara, em todos os sentidos, ainda que os medicamentos sejam bancados pelo sistema público; e os exames, as consultas especializadas e tudo o que se precisa para um bom monitoramento das condições de saúde é financiado por quem?
A sociedade, de um modo geral, continua discriminando as pessoas e procura se afastar daqueles que são ‘diferentes’ ou representam ‘algum risco’ para o seu bem-estar – pura ignorância que custa muito caro para quem tem que pagar o preço.
Vejo ONGs fechando as portas pelo descaso dos governos e também, porque não dizer: já não se fazem militantes como antigamente...
Desde quando ainda estava no GAPA/RS percebo que as pessoas se inserem no trabalho social com a expectativa de conseguir ascensão profissional, política e financeira – se não há benefícios próprios, não há interesse pela causa. Frente a um governo omisso, carente de políticas sociais, o terceiro setor transformou-se em um mercado lucrativo até acontecer o boom de entidades “sem fins lucrativos” e a crise financeira internacional que secou a fonte de financiamentos. As pessoas discriminadas e atendidas por essas entidades que fiquem à mercê da própria sorte e deem-se por satisfeitas por receber um péssimo atendimento e, quando convém,  migalhas de um governo assistencialista.
Se pareço revoltada, é porque há um dragão cidadão em mim que eu insisto em manter sob controle... apertei a tecla DANE-SE para o quê só me trará stress. Tenho mais é que cuidar de mim!!!!

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