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sábado, 20 de outubro de 2012

A aids é gay


Na quinta-feira, fui assistir a abertura do Vivendo, pela primeira vez, realizado fora do Rio de Janeiro, tendo um caráter regional e menos globalizado – não me ocorre um termo mais adequado...
Revi muitas pessoas que conheci nos tempos de militância e havia outras tantas desconhecidas, um dos aspectos que chamou a atenção (talvez por eu estar desvinculada há bastante tempo) foi o estilo “balada GLS” que marcou o evento. De um modo geral, a maioria do público presente estava composto por homossexuais; mulheres eram poucas e ‘pessoas comuns’, não estiveram presentes, pelo que pude perceber.
Depois de tanto tempo, tanta luta e tanta retórica, é preferível manter a aids distante das pessoas, algo que só acontece com o outro e não faz parte da vida de todos nós.
Talvez fosse assim nos primórdios: um gueto composto por aqueles que enfrentam as adversidades de viver com HIV, solidários entre si, a imaginar quem seria o próximo... a diferença agora, é que àquelas e àqueles que tem acesso ao tratamento não morrem tão rápido; os outros, são os outros e só, plagiando Paula Toller.
A aguardada mesa de abertura foi formada somente por homens gays, que vivem com aids desde o milênio passado e trouxeram relatos dos tempos jurássicos da epidemia.
Para qualquer pessoa que não conheça a realidade dos fatos, ficou a impressão de que aids é uma coisa que só aconteceu com ‘viados’ há cerca de 20 anos atrás. Cadê as outras tantas pessoas que vivem com HIV e aids? O número de mulheres, com suas especificidades na soropositividade, cresceu enormemente no período e ao que parece, o movimento ignora isso. Como o senso comum irá destigmatizar a aids, se o preconceito começa dentro do movimento?
Por motivos outros, não compareci aos dois dias subseqüentes do encontro, acredito que foi uma questão de elencar prioridades e não me sentir inserida dentro do contexto. Há um universo de pessoas invisíveis sobrevivendo com aids, enquanto uma meia dúzia faz de conta que está enfrentando a epidemia, sem abrir mão da militância falida por questões de vaidade pessoal.
Pronto, falei!!!! 

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