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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Oportunista

Com a troca de infectologista, repeti uma série de exames de rotina – que eu julgava banais e tinha “a certeza” dos resultados. Dentre eles havia a solicitação para um mantoux (Porto Alegre é uma das cidades com maiores índices de TB do país), como não apresentava sintoma algum e ainda estava em tratamento no hospital-dia, os médicos do Sanatório Partenon sugeriram que eu esperasse o retorno do técnico do serviço, que estava em férias, para então realizar o exame. No final de abril, ao fazer o exame, fui surpreendida com uma importante induração no braço esquerdo... Realizei os exames complementares – raio-x e tomografia – e também uma fibrobroncoscopia que apontou a presença do bacilo na biópsia. O tratamento da doença é feito pelo SUS, fui encaminhada pela minha médica para o Hospital Sanatório Partenon, onde passei pelo pneumologista que disponibilizou a medicação necessária para o mês. Estranhei estar novamente em um ambulatório de saúde pública, cercada de “pacientes diferenciados”, que dependiam unicamente daquele atendimento para garantir a recuperação da saúde e tinham demandas sociais importantes para realizar o acompanhamento. Fui ‘privilegiada’ por ser atendida por um médico que se “ocupa” do paciente, ao contrário da maioria dos profissionais de saúde pública, eu falo isso com tranquilidade porque já fiz parte do sistema como profissional e paciente.... A primeira consulta foi “encaixe” com o médico disponível e, a partir do segundo mês, eu peguei o jeito para não passar a tarde toda sentada esperando a minha vez de ser atendida: consigo pegar a primeira senha para o médico que está monitorando o meu tratamento. Em agosto, no terceiro mês de tratamento, ele disse que eu precisaria fazer um raio-x de controle, perguntei se não havia como me dar uma requisição para eu fazer pelo convênio porque demoraria muito para realizar pelo SUS, ele respondeu que eu faria o exame logo após a consulta e foi o que aconteceu – nada como estar com uma doença contagiosa para o sistema funcionar!!!! Há bastante tempo que eu conheço um projeto de exercícios físicos para pessoas com aids, desenvolvido pela Faculdade de Educação Física da UFRGS, finalmente resolvi deixar de ser sedentária e entrei em contato com o coordenador do Projeto; na entrevista, ao fazer a anamnese, ele me colocou que eu preciso concluir o tratamento da TB para poder iniciar os exercícios... como a previsão inicial era de terminar no final de novembro e a faculdade entra em férias logo a seguir, só poderei começar no ano que vem – até lá, pode ser que a vontade passe!!!! Também preciso torcer para que não surja nenhuma outra complicação... No retorno em setembro, além de aumentar a dose de medicamentos para 4 comprimidos por dia, ele aventou a possibilidade de eu precisar de 9 meses de tratamento (ao contrário dos 6 meses rotineiros); aí surge a questão: se aderi aos medicamentos, levo uma vida regrada e os meus marcadores virais são bons, por quê isso acontece comigo? Estou com a segunda doença oportunista do ano e, no caso atual, não tive nenhuma tossezinha.... a minha tuberculose é tão subjetiva quanto à aids.... Começo a cogitar a possibilidade de ter células de defesa de baixa qualidade – como disse um amigo: têm cd4 que não é bom...” – admitir que estou seriamente doente (mesmo que não sinta nada) e me adaptar à vida com limitações. O que me deixa indignada é o fato de muitas pessoas serem irresponsáveis com o tratamento, cometerem os mais variados excessos e mesmo assim, terem uma saúde de dar inveja (ainda se fazem de coitadinhos porque tem aids...) Vão se f... Sigo a vida e não vou permitir me abater, eu faço a minha parte e se o meu organismo não quer colaborar, deve haver alguma razão cósmica para isso. Estou aqui e vivo esse momento!!!!

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