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domingo, 11 de dezembro de 2011

Sentimentos


Há mais de 15 anos convivendo com o diagnóstico de aids, somente agora, após ter tido complicações renais em função do uso do tenofovir, é que a aids deixou de ser algo subjetivo em minha vida porque passei a enfrentar limitações que até então inexistiam.
Ingerir diariamente vários comprimidos, quando não se tem nenhuma doença concreta, foi relativamente fácil mas, a partir do momento em que foi preciso iniciar uma super terapia de resgate – mesmo sendo aderente ao tratamento e levando uma vida regrada –  sentindo que o meu organismo está cedendo à pressão do HIV, as coisas começam a ficar complicadas.
A insuficiência renal foi um diagnóstico muito mais difícil de elaborar porque significou alterações relevantes em minha vida cotidiana: sempre tive dificuldades com a alimentação, penso que “comer é um mal necessário” e aí, tendo que abrir mão de quase tudo o que ingeria (e as poucas coisas que gostava), para reduzir os níveis de sódio, é um processo ainda a ser construído. Não bastasse a necessidade de abrir mão das comidas processadas ou industrializadas, embutidos, salgados e lights (já havia sobrado pouca coisa pra eu comer...) agora, estou com suspeita de refluxo em função da bomba diária de arvs, com mais limitações na dieta – a essa altura penso que, talvez fosse melhor começar a usar uma dieta parenteral.
A minha vida social basicamente tem se resumido a freqüentar consultas médicas e laboratórios de análises, profissionalmente, não faço mais nada, porque tenho medo de não conseguir honrar os compromissos assumidos.
Assim como passei a entender o termo ‘paciente’ ao ficar doente e necessitar de cuidados hospitalares, agora entendo o uso da palavra ‘sobrevida’...
Estou me sentindo fracassada e impotente. Como sempre passei a imagem de uma pessoa segura e nunca tive a aids como protagonista da minha vida, não sei como lidar com esses medos.

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