Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos calados
Onde germina calada podridão
Porque os outros se calam mas tu não
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andressen
sábado, 7 de janeiro de 2012
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Fugindo aos padrões
Sou uma mulher com mais de 40 anos, que mora sozinha e optou por não ter filhos.
Como tudo na vida, isso tem um ônus.
Por um curto período, morei com um companheiro mas, a convivência diária, destrói qualquer relacionamento que não tenha bases muito sólidas. E eu, não aprendi a construí-las. Atualmente, não abro mão de morar sozinha, também estou muito acostumada com as minhas manias e seria difícil ter que me desfazer delas – o meu desapego se restringe às coisas materiais.
A sociedade de um modo geral, não entende como uma mulher pode não querer ser mãe: nasceu pra quê, então?
Já relatei aqui que desde muito jovem aprendi a ser independente e não preciso de um homem que resolva os meus problemas domésticos – eles são tantos e tão chatos, mas se você pode contratar um profissional para executar o serviço somente com um custo financeiro, muito melhor e menos estressante (e você ainda pode reclamar que está mal feito, pedir pra fazer de novo e não precisa ficar agüentando as crises de mau-humor posteriores)
Semanas atrás, recebi uma mensagem de uma irmã que nem sei onde mora, imaginem o tamanho do nosso vínculo, me ‘jogando na cara’ que a filha dela – minha sobrinha, não tem 30 anos e “já teve seu filho, plantou árvore e agora escreveu um livro infantil”, as entrelinhas ficaram muitas claras, nem me dei ao trabalho de responder...
Criar um filho, envolve uma imensa responsabilidade – sem considerar os aspectos financeiros – eu nunca me senti apta a formar um novo ser humano (sou rotulada de covarde e egoísta por isso, tudo bem) e o mundo em que vivemos já está cheio demais de pessoas que nasceram ‘por acaso’; a capacidade física e energética do planeta está se esgotando, dentro em breve, não haverá comida, água potável ou espaço para as futuras gerações habitarem.
Defender a ecologia tornou-se um discurso politicamente correto há muito pouco tempo e ainda não foi apreendida pelas civilizações, o consumismo exacerbado, imposto pelo capitalismo e pela globalização, faz com que a quantidade de resíduos seja cada vez maior e não há o reaproveitamento dos materiais. A filosofia dos 3 ‘erres’ não combina com a política governamental ou midiática e por isso, é defendida por uma meia dúzia de gatos pingados vanguardistas, que são taxados de loucos ‘sem noção’.
Não sou a favor de levar uma vida franciscana – nem oito, nem oitenta – mas não entendo porque é necessário acumular bens que você não necessita, comprar roupas e calçados a cada estação (se você já tem um armário cheio deles) e ter, de forma egoísta, um meio de locomoção particular, para congestionar as ruas e poluir ainda mais o planeta.
A sociedade, e os governantes que nos representam e fazem parte dela, deveriam deixar de ser hipócritas e abraçar causas coletivas, que trouxessem melhorias na qualidade de vida de todas e todos.
Como uma gota de água no oceano, tenho tentando fazer a minha parte.Sou gente que faz
Enquanto mantinha uma atividade acadêmica e profissional, me considerava uma pessoa questionadora dos métodos tradicionais, propositiva e crítica – estava sempre buscando uma nova forma de fazer, diferente do estabelecido e inconformada com os “cabrestos” impostos pela sociedade. Ao me afastar das atividades laborais, descobri em mim uma pessoa “tarefeira”: peça-me alguma coisa, que em seguida eu farei. Apesar de valorizar muito a minha independência, funciono na base do empurrão - preciso ser mandada!!!!
Não assisti ao filme Tropa de Elite porque a violência não me atrai – já é muito que vejo nos jornais – mas sei que um bordão dos protagonistas è “missão dada, missão cumprida”; depois de velha, tenho que assumir que isso se aplica perfeitamente a mim.
Paradoxos de Celia...
Ser organizada nas tarefas e uma grande base de dados ambulante, sempre foram características marcantes em mim, se precisassem de alguma informação ou alguma idéia inovadora, recorriam a mim e teriam uma resposta adequada à demanda. Como boa leonina, sou uma líder nata e adoro uma peleia, se sair ganhando!
Com o passar do tempo e, as conjecturas da vida, foram me acomodando e deixando de estar atualizada sobre ‘n’ assuntos e de ser esta referência para as pessoas; acho que sinto falta disso: de ser necessária ainda que seja para informar algum número de telefone.
Esse ostracismo em que vivo agora, é responsabilidade minha – sou Eu na terra e Deus no céu – e, por vezes, sinto falta da vida estimulante e estressante que levava mas, ao mesmo tempo, é tão bom não precisar sair de casa quando está um calor ou uma chuva infernal, poder dormir à tarde e não ter compromisso algum.
Paradoxos de Celia...
O cérebro não deixou de funcionar – é o corpo que não acompanha o ritmo – o meu irmão mais velho e minha cunhada, que visito regularmente, trabalham com artesanato e ele sempre diz: “Celia, para de ter idéias” (porque serão eles a executar, já que eu não tenho nenhuma habilidade manual – mal sei pregar um botão)
A nossa vida é uma constante descoberta e manter a curiosidade e o interesse pelo mais variados assuntos é fundamental para nos mantermos vivos – preciso recuperar a Celia que deixei pelo caminho J
Hoje vou em busca de uma nova descoberta, que talvez não seja muito agradável mas, é necessária no meu processo de desenvolvimento pessoal e, se precisarem de alguma informação, é só pedir, estou sempre disponível – posso não saber a resposta, mas encontro quem a tenha. Essa é uma filosofia que adoto: você não precisa saber de tudo, basta saber quem sabe.
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